Nessa batida, eleição será um plebiscito sobre o PT
Na última semana da eleição de 1989 ninguém sabia ao certo quem iria para o segundo turno. Foram um aventureiro de direita e um incendiário – à época – de centro-esquerda que era Lula. O ex-governador do Rio Leonel Brizola, presumivelmente o segundo nome, ficou a 300 mil votos da segunda vaga. Uma fração. É improvável que Ciro Gomes (PDT), o equivalente de Leonel Brizola naquela eleição, consiga ainda chegar à final, numa reação do eleitorado à polarização entre o PT e o PSL, o partido de Jair Bolsonaro que assumiu o papel antes desempenhado pelo PSDB.
O segundo turno é este mesmo: Fernando Haddad (PT) e Bolsonaro. São 20 dias de campanha, desta vez com tempo igual de TV para cada lado (conteúdo não é o forte de Bolsonaro), quando o antipetismo será explorado à exacerbação. A ideia é botar o PT (e o governo Dilma, que anda meio desaparecido) no colo de Haddad. A avalia-se que ele ainda não foi contaminado pela rejeição ao partido. Neste momento, aparentemente, Haddad leva alguma vantagem pelo fato de a associação dele com o PT não estar fechada, o que deve acontecer no segundo turno. Pode ser. De certo mesmo, hoje, é que os dois estão no segundo turno.
Pode ser muita coisa depois do dia 7, o domingo da eleição. A conferir. No primeiro turno, algumas parecem mais ou menos claras. Na eleição de 2014, Aécio Neves (PSDB) tirou em São Paulo 7 milhões de votos de vantagem sobre Dilma Rousseff. O antipetismo com Bolsonaro não deve alcançar a mesma vantagem, segundo as pesquisas. Já o PT está em condições de levar 60% dos votos no Nordeste, na esteira do prestígio de Lula. Na eleição passada os outros dois Estados do Sudeste – Rio e Minas Gerais – votaram no PT. Bolsonaro tem possibilidade de ganhar na região.
A campanha de Bolsonaro não pode mais se dar o luxo de errar como fez na semana passada, com declarações desastrosas sobre o 13º salário e a CPMF. O candidato está sob o fogo cerrado do PSDB e das mulheres. A empresa de consultoria Arko Advice fez um interessante trabalho sobre os pontos fortes e negativos de cada um, no segundo turno. Não há margem para novos erros, sobretudo de Bolsonaro, que enfrenta um adversário experiente e que tem a mão uma azeitada máquina de ganhar eleição, o PT.
Bolsonaro entra na disputa com quatro pontos que a Arko considerou positivos. O primeiro é o discurso contra violência e o direito de o cidadão portar armas. O candidato do PSL também conseguiu se vender como um nome da antipolítica, apesar de seus sete mandatos de deputado federal. Também “posicionou-se abertamente contra o PT e se beneficiou dos escândalos de corrupção que também atingiram o PSDB”, diz a Arko, e avançou no antipestimo.
A indicação de Paulo Guedes para o Ministério da Fazenda é outro ponto positivo. O economista tem prestígio no mercado financeiro e no setor empresarial. Por fim, Bolsonaro demonstra força no Sul, Sudeste e Centro-Oeste e lidera em quatro das cinco regiões. No Norte e no Centro-Oeste tem 28% das intenções de voto. No Sudeste, 29%. No Sul, 36%.
O eleitorado feminino é uma das maiores fragilidades do candidato. Segundo o Ibope, a rejeição de Bolsonaro entre as mulheres é de 52%. A de Haddad, apenas 20%. Outro ponto negativo são os recursos financeiros limitados. O tempo de TV será igual, mas a estrutura do PT é mais forte. Até agora só um candidato do PSL aparece com chances de eleger um governador (Roraima)
No segundo turno, o tempo de propaganda na TV será igual para os dois candidatos. Mas o PSL tem recursos financeiros limitados. As denúncias recentes contra Bolsonaro também tiveram ampla cobertura da imprensa. Por último, a questão da governabilidade – o PSL deve crescer, mas terá menos de 2% da Câmara.
Um dos pontos positivos mais fortes de Haddad em relação a Bolsonaro é a estrutura do PT – recursos financeiros, apoio dos movimentos sociais e governadores de Estados importantes trabalhando em favor do candidato. Claro, a força de Lula no Nordeste e sua capacidade de transferir de votos. É a única região em que Haddad está à frente de Bolsonaro.
A gestão Lula também conta positivamente. Há um certo sentimento de volta “aos bons tempos” em que a economia crescia. Não é por outro motivo que o slogan de campanha de Haddad – “O Povo Feliz de Novo” – procura reforçar essa ideia. A experiência do PT adquirida em disputas presidenciais conta a favor. Esta é a oitava e o partido venceu as últimas quatro.
Entre os aspectos negativos, a corrupção que atingiu o PT nos últimos anos é a principal. A exploração do assunto será exacerbada no segundo turno, agora, reforçada com a delação de Antonio Palocci, todo poderoso ministro da Fazenda e da Casa Civil nos governos Lula e Dilma. O segundo ponto é o sentimento anti-PT, especialmente entre os mais escolarizados e de maior renda. Haddad enfrenta resistência nos setores empresarial e financeiro, o que pode ser remediado com uma inflexão no atual discurso. Se vencer, Haddad pode anunciar de imediato sua equipe econômica, para acabar com as desconfianças. O quarto ponto negativo é o programa de governo francamente estatizante. “Há dúvidas, ainda, sobre o comprometimento com as reformas fiscais”, diz a Arko.
Nessa batida, a eleição será um plebiscito sobre o PT. E o que não mata, fortalece.
Descrédito
Não é só Geraldo Alckmin que tem muito tempo de televisão à toa. O fenômeno também se repete nos Estados. Intrigado, um candidato a governador foi conferir numa pesquisa qualitativa. Resultado: os políticos levaram para a propaganda na TV o mesmo descrédito de que são vítimas.
Pulverização
Nas contas de Gilberto Kassab, um especialista na criação de partido, nenhuma sigla terá mais de 10% das cadeiras da Câmara. O PT e o PP devem ficar com 9,74% cada um. O MDB, com 7,79%, cai para a sexta posição. Kassab calcula que 18 partidos devem passar a cláusula de barreira, mas em 2023, com o fim das coligações nas eleições proporcionais, esse número cai para dez. Na atual legislatura, PT e PSDB têm 13%.