Ex-presidente chega acuado e abatido a Curitiba. A quarta-feira 13 pode ser o Dia D da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva às eleições de 2018.
Lula presta depoimento amanhã ao juiz Sergio Moro, em Curitiba, acuado pelas revelações feitas há uma semana por Antonio Palocci, ministro da Fazenda e da Casa Civil nos governos do PT, segundo as quais Lula estava no centro do esquema de corrupção da Petrobras e autorizou a cobrança de propina para financiar a campanha à reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff.
Se o ex-presidente se enrolar na presença de Sergio Moro, não deve ser candidato em 2018 por mais que esteja legalmente habilitado. Se for bem, pode começar por Curitiba mesmo a caravana programada para a região Sul do país, a exemplo da que liderou no Nordeste, encerrada no dia 5 em São Luís do Maranhão.
Mas Lula chega a Curitiba abatido com o depoimento de Palocci, segundo fontes que com ele convivem. Não esperava. Dizia para os mais chegados que não havia nenhuma chance de ser implicado por seu ex-ministro da Fazenda. Por dois motivos. Primeiro, o discurso de sempre: não tem ninguém que possa dizer que o viu pegar um tostão ou que tenha condição moral de dizer que colocou um centavo em sua mão. O segundo, a proximidade.
Argumentava que Palocci era do PT. Lula imaginava que seu ex-ministro da Fazenda teria, portanto, o mesmo comportamento de José Dirceu, com o qual integrou o núcleo duro do primeiro governo petista, e do ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto, que permanece preso em Curitiba, pois embora absolvido de uma primeira acusação, responde por outras acusações.
Não foi por falta de aviso que Lula se surpreendeu com a confissão de Palocci. Em seu primeiro depoimento o ex-ministro disse a Moro que poderia contribuir com as investigações e que estava disposto a dar as explicações necessárias no dia que o juiz quisesse, ao próprio Moro ou a pessoa que o representasse. Foi um sinal de que estava encaminhando uma delação premiada.
Outro sinal captado por amigos de Lula: Palocci não foi para o presídio de Curitiba, continua na Polícia Federal. Lá está na galeria do lado onde estão os presos que fizeram delação. Há um corredor na PF que separa as celas dos presos que firmaram um acordo de delação premiada daqueles que não o fizeram.
Pelo menos aos olhos do PT, o fato de a Justiça Federal antecipar o depoimento de Palocci para a semana passada e postergar o de Lula para esta semana foi outro indício claro de que Palocci estava pronto para entregar Lula. A agenda teria sido manipulada justamente para que Lula falasse depois que Palocci o apontasse como o chefe.
Até agora, pelo que se sabe no PT, o ex-ministro Palocci ainda não assinou um termo de delação premiada. Palocci pode ter falado para incentivar a força tarefa da Lava-Jato em Curitiba, dizendo que tem muita coisa para contar, e aliviar um pouco o próprio fardo entregando Lula.
O fato é que Lula ficou abatido e “ofendidíssimo” por tudo o que Antonio Palocci falou sobre ele. É assim que chega a Curitiba. No primeiro depoimento que prestou a Moro, o ex-presidente começou hesitante, mas reagiu e no final já desempenhava o papel de vítima, no qual sente-se bem mais confortável. A situação hoje é bem diferente.
O primeiro encontro de Moro com Lula foi em maio. O ex-presidente foi recebido em Curitiba por alguns milhares de militantes arrebanhados por todo o país, mas para amanhã apenas são esperados os militantes do Paraná. Entre outras coisas, Lula terá que responder sobre o terreno que teria recebido da Odebrecht, no valor de R$ 12 milhões, para a construção da sede do Instituto Lula. Tudo verdade, segundo Palocci.
O PT nunca admitiu ter um Plano B para candidato a presidente nas eleições de 2018. Depois do estrago provocado pelo depoimento de Palocci, o assunto entrou na ordem do dia do partido. A avaliação jurídica feita era que Lula poderia disputar em 2018 mesmo sendo condenado em segunda instância, o que o enquadraria na Lei da Ficha Limpa. Mas como a decisão do tribunal de recursos é esperada somente para junho ou julho, o partido teria tempo para arrastar uma decisão definitiva até outubro.
É possível. Mas talvez não seja o embaraço jurídico que impedirá Lula de subir nos palanques como candidato, no próximo ano. Se for mal amanhã em Curitiba, sua candidatura pode ficar ferida politica e eleitoralmente de morte. Só Lula pode desatar o nó dado por Palocci.
Previdência
O Palácio do Planalto botou na agenda a votação da reforma da Previdência em outubro. Na prática, trata-se de um balão de ensaio para testar o humor do Congresso e mostrar que o governo não está paralisado com a perspectiva de o procurador-geral, Rodrigo Janot, apresentar uma segunda denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o presidente da República. Hoje o governo não tem os 308 votos necessários para aprovar a reforma na Câmara dos Deputados.
Troféu
De um figurão da República: a Polícia Federal fazia uma campana para pegar Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo do presidente Michel Temer, e seus R$ 51 milhões em flagrante, mas teve de precipitar a operação para apresentar os resultados ao Ministério Público Federal antes da saída do procurador-geral, Rodrigo Janot.
Apostas
A prisão de Joesley Batista vence na sexta-feira. A bolsa de apostas está aberta: o procurador Rodrigo Janot vai ou não pedir a prisão preventiva do empresário? A decisão de Janot pode elucidar o que para boa parte do mundo jurídico de Brasília foi um pacto – sobre o que conversaram Janot e Pierpaolo Bottini, o advogado de Joesley, num botequim de Brasília, no sábado?