Acordo com a Boeing mostrou que o mundo dos negócios não é tão ufanista assim
A venda da divisão de jatos comerciais da Embraer –que representa 60% do faturamento e a maior parte do lucro da empresa – para a americana Boeing vai, sem dúvida, despertar uma ponta de desgosto no coração de praticamente todos os brasileiros.
A Embraer foi alardeada por sucessivos governos com uma prova de que o Brasil é capaz de produzir mais do que commodities (sem demérito para a tecnologia empregada nas lavouras de soja) e competir com as potências globais. Tornou-se um orgulho nacional.
O negócio entre Embraer e Boeing mostrou que o mundo dos negócios não é tão ufanista assim. Desde que a Airbus fechou um acordo semelhante com a canadense Bombardier, em outubro do ano passado, o destino da fabricante de aviões brasileira estava selado.
O presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, disse à Folha que a Embraer precisava de “musculatura” ou acabaria espremida por concorrentes gigantes e fornecedores de peças cada vez mais globalizados.
Ele está certo. A fabricante brasileira de aviões não teria condições de competir em um mercado globalizado com uma Bombardier turbinada pela Airbus. Também não conseguiria enfrentar concorrentes russos e chineses, que já nascem pesadamente subsidiados por seus governos.
Praticamente quebrado, o Estado brasileiro, que tanto impulsionou a Embraer desde sua criação, não tem mais condições de apoiar financeiramente às exportações da companhia. E nem esse deve ser o seu papel dados os enormes desafios sociais do país.
Obviamente, os termos do acordo não foram os mais favoráveis para a Embraer, porque a Boeing jogo todo o seu peso na mesa de negociação e não pagou um prêmio de controle tão alto quanto o mercado imaginava.
Os acionistas da Embraer, cujo capital é pulverizado, vão colocar um bom dinheiro no bolso agora, mas não devem esperar alta dos papeis no médio prazo. A empresa passará a viver dos dividendos gerados pelos 20% que detém na nova joint venture e dos negócios de jatos executivos e defesa, que não são nem de longe tão rentáveis quanto a aviação comercial.
Os brasileiros, no entanto, podem escolher entre o “copo meio cheio” e o “copo meio vazio” no negócio Boeing – Embraer. O lado “cheio” é que a Boeing se instalou de vez no país e deve ter muito fôlego para impulsionar suas operações no Brasil.
Além da divisão de jatos comerciais, a gigante americana está “comprando” os engenheiros e gerentes da Embraer, uma mão de obra altamente qualificada, que custaria muito mais nos Estados Unidos. Isso significa que a Boieng não vai sair daqui tão cedo.
Em tempo: é bom irmos nos acostumando, porque o destino da Braskem, uma petroquímica gigante criada com apoio pesado do governo federal nas últimas décadas, será o mesmo em breve. Também vai acabar nas mãos de estrangeiros.
* Raquel Landim é jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política.