Bolsonaro preferiria que relação com miliciano estivesse enterrada
“O então tenente Adriano foi condecorado em 2005. Até a data de sua execução, 9 de fevereiro de 2020, nenhuma sentença condenatória transitou em julgado em desfavor do mesmo.” A declaração assinada por Jair Bolsonaro foi elaborada ao lado de seu chefe da comunicação, Fabio Wajngarten, dentro do carro presidencial parado por 38 minutos na entrada do Palácio da Alvorada, na noite de sábado (15). Ela integra nota em resposta a um tuíte do governador Rui Costa (PT-BA).
A aparente trivialidade da tarefa esconde um marco nessa história, toda ela capaz de arrepiar os cabelos de qualquer um que os tenha.
>Horas antes, Jair e Flávio Bolsonaro falaram pela primeira vez sobre a morte do ex-capitão da PM Adriano da Nóbrega. “Querem me associar a alguém por uma fotografia, uma moção”, esbravejou o presidente, em referência às honrarias dadas pelo filho ao PM. Bolsonaro talvez tenha se esquecido, mas em 2005 ele contou na Câmara ter ido ao julgamento do “brilhante oficial” Adriano. Afirmou, inclusive, ter descoberto uma linha de defesa que nem o advogado do PM havia imaginado na época.
A partir de 2010, a sogra e a mulher de Adriano foram para o gabinete de Flávio. Quem mandou contratar? A repórter Ana Luiza Albuquerque fez a pergunta, já que Bolsonaro havia admitido ter mandado Flávio homenagear Adriano. “Vamos encerrar essa conversa aqui.” Outra pergunta é: Quem mandou exonerar as duas, Fabrício Queiroz —pivô do caso das rachadinhas— e seus familiares no fim de 2018, quando a família se deu conta de que o zé-ninguém da Câmara iria mesmo virar presidente? Os filhos entraram para a política pelas mãos do pai, que sempre coordenou seus gabinetes.
Nenhuma das 2.543 pessoas mortas por policiais só em São Paulo e no Rio, em 2019, mereceu a deferência dada ao ex-capitão do Bope, suposto chefe de milicianos e matadores de aluguel.
Involuntariamente, a nota deste sábado autentica em cartório uma relação que Bolsonaro preferia ver morta e enterrada.