Bem mais do que ações, as reações são a principal boa-nova deste 2019
Então, é 2020! Quer dizer, quase, o que nos permite uma última olhada neste impagável 2019.
O ano 1 do mandato de Jair Messias Bolsonaro irá merecidamente entrar para a história como um dos mais lastimáveis que já vivemos. Os ataques a pilares da democracia, à ciência, à história, à diversidade, à civilização e ao bom senso em geral encontraram um terreno fértil na idiotia das redes sociais e nos gabinetes do Executivo, em Brasília.
Como isso não é novidade pra ninguém, permito-me neste último dia de 2019 praticar exercício reverso, o de tentar vislumbrar o que de bom o bolsonarismo produziu no ano.
Seria muito mais divertido, é verdade, ficar apenas na lista precedida da advertência “contém ironia”.
Ou não foi espetacular a sonhada e esperada abertura da caixa preta do BNDES que qualquer um já podia acessar pela internet? Ou a pedagógica discussão nacional-carnavalesca sobre o golden shower? Ou a descoberta, pelo menos da minha parte, e aqui quase ironia não há, de como há mais sensatez do que podia imaginar em figuras como Alexandre Frota, Janaina Paschoal e o general Mourão? Ou, termino por aqui, a lista é interminável, a celebrável constatação de que, devido ao que passamos a saber, jamais poderemos voltar a usar, sem a advertência “contém ironia”, o termo “filósofo” associado a Olavo de Carvalho.
O que de bom o bolsonarismo produziu até aqui está, sem ironia, na reação provocada. Artistas, cientistas, educadores e tantos e tantos outros não se curvaram (tudo bem, alguns, sim). A homofobia virou, enfim, crime. O Judiciário e o Congresso, com todas as suas mazelas, barraram até o momento a institucionalização do retrocesso civilizatório —no caso de Câmara e Senado, conduziram inclusive coisas que o governo mais atrapalhou que ajudou, como a reforma da Previdência.
Coquetéis molotov foram e continuarão sendo jogados pelos talibãs da nova ordem. Resistir será a prova definitiva da solidez da nossa democracia e das nossas instituições.