Doutora e mestre em história e estética de cinema pela Universidad de Lausanne critica medidas de Jair Bolsonaro
Decisão do presidente Jair Bolsonaro, determinando que todas as produções candidatas a receber financiamentos do governo deverão passar doravante por um “filtro”, mostra que o mar cinematográfico brasileiro não está para peixe. É com essas palavras que a doutora e mestre em história e estética de cinema pela Universidad de Lausanne Lilia Lustosa inicia sua crítica à medida do governo, em artigo que ela produziu para a revista Política Democrática online, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira).
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A FAP é vinculada ao partido político Cidadania 23. No artigo, Lilia destaca que nem a onda de prêmios importantes recebidos por filmes brasileiros neste ano em Cannes serviu para acalmar a tempestade que se vinha formando no meio cinematográfico do país. “Nem Bacurau (2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que levou o prêmio máximo do júri, nem A vida invisível de Eurídice Gusmão (2019), de Karim Aïnouz, ganhador do prêmio Un Certain Regard, foram capazes de diminuir a vontade do presidente Jair Bolsonaro de controlar o conteúdo do que é financiado pelos cofres públicos”, lamenta a autora.
De acordo com Lilia, o recente caso da suspensão do edital de chamamento a projetos de séries para a TV Pública comprova não se tratar apenas de uma fala retórica de nosso presidente. “Com linha de crédito do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e participação da Ancine e da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), o edital tinha entre as categorias de investimento uma dedicada à diversidade, com temas LGBT”, afirma.
Lilia diz, ainda, que, para o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, responsável pelo Conselho Superior de Cinema (CSC), “o ‘filtro’ deve ser principalmente financeiro”. Segundo ele, a atual política pública de incentivo ao cinema não tem medido os resultados obtidos, gerando obras sem relevância para a economia do país. “Até que aí ele pode ter um ponto. É preciso de fato preparar de uma vez por todas o terreno para que as produtoras brasileiras se tornem independentes”, destaca.
Mas, para isso, segundo ela, é preciso, antes de mais nada, que haja público para o filme brasileiro, o que implica redução do preço das entradas para produções nacionais e, sobretudo, aprimoramento da distribuição dessas obras, que, até hoje, têm de se espremer nas brechas das programações dos Multiplex, dominados pelos filmes norte-americanos. “Questão antiga, tão batalhada pelos cinemanovistas nos anos 60, levada a sério pela Embrafilme nos anos 70/80, interrompida nos anos 90 pelo Governo Collor, e jamais resolvida por governo algum”.
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