No decorrer da semana passada, duas frases me chamaram a atenção. Respeitando a ordem cronológica, temos: “Na democracia, só existe um norte, é o da nossa Constituição” e a segunda “Respeitar os professores não é apenas um dever moral importante, é essencial para os resultados educacionais de um país”.
Quanto aos seus autores, a primeira foi dita pelo presidente eleito Jair Bolsonaro, ocupando o centro das atenções durante a sessão comemorativa dos 30 anos da Constituição, no Congresso. Nesta primeira ocasião, o “óbvio” tomou forma de “inédito”, certamente por partir de uma fonte cujo histórico de atitudes gerou medo e incertezas quanto a garantia da democracia durante, inclusive, todo o processo eleitoral.
Já a segunda frase é de Sunny Varkey, fundador da Varkey Foundation, responsável pela premiação de professores considerada o Nobel da Educação. Sua frase expressa parte de sua análise sobre o resultado da pesquisa divulgada no último dia 7, realizada por sua fundação, na qual o nosso Brasil é apontado como o país que menos valoriza os professores, estando em último lugar dos 35 países analisados neste quesito!
E qual a relação entre ambas as frases?
Sinto que tão importante quanto o “norte” é o caminho até ele. E isso passa decisivamente pela Educação!
Por essa razão as frases e seus contextos me chamam a atenção, pois como o presidente eleito fará valer sua palavra, tendo por base um país que não valoriza seus professores que são responsáveis diretos pela educação em nossas escolas?
Como garantir avanços e aprimoramento à democracia com milhares de jovens de 14 a 29 anos fora da escola? Isso sem falar no analfabetismo funcional, na falta de condições e estruturas adequadas, nos últimos lugares que ocupamos nas avaliações internacionais do PISA e tantos outros aspectos que inviabilizam a qualidade da educação de nosso país.
Definitivamente não é “Escola Sem Partido” que dará conta de superar esses desafios. É País com Educação de boa qualidade que a gente precisa! E também de muita gente que queira e estude para ser professor. A tarefa é grande. Convergir o orçamento para concretizar o Plano Nacional de Educação é um bom começo.
O percurso da democracia participativa é exigente de conhecimento para melhorar as condições de vida das pessoas, recuperar a credibilidade do país para atrair novos investimentos, gerar oportunidades de trabalho e para que os “desvios” – já infelizmente tão conhecidos – não se repitam. É também exigente de respeito à diversidade que implica nossa brasilidade.
Ao longo de nossa história colecionamos ciclos de crescimento econômico, mas que não se sustentaram. Crescimento precisa ser acompanhado de desenvolvimento e a Educação tem valor estratégico para esse feito.
Passadas três décadas de nossa Carta Magna, é urgente recalcular nossa rota. Qualquer ação que não considere de forma concreta o valor estratégico da Educação e valorização de seus profissionais para democracia e desenvolvimento do nosso país está fadada a fracassar.
O que queremos é condições para vivenciar com plenitude nossa Constituição e colaborar com um futuro melhor. A realidade nos convoca a persistir. Educação já!
* Pollyana Gama é ex-vereadora e ex-deputada federal, filiada ao PPS, mestre em Desenvolvimento Humano