Em artigo publicado na sétima edição da revista Política Democrática online, diretores do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial avaliam reflexos do governo de Nicolás Maduro
Cleomar Almeida
Hoje a Venezuela enfrenta uma profunda crise social, com o altíssimo índice de homicídios de 81 por 100 mil habitantes em 2018 e hiperinflação com estimativa do FMI de 10.000.000% para 2019. A avaliação é dos autores Fernando Braga e Silva e Norman Gall, diretor adjunto e diretor executivo do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, em artigo publicado na sétima edição da revista Política Democrática online.
» Acesse aqui a sétima edição da revista Política Democrática online
De acordo com os autores, a Venezuela enfrenta uma profunda crise social, com o altíssimo índice de homicídios de 81 por 100 mil habitantes em 2018, quase o dobro de 2003 (que era de 44 por 100 mil) e que parou de ser divulgado oficialmente em 2015. Além disso, conforme eles lembram no texto, o país sofre com hiperinflação de mais de 1.000.000% em 2018, com estimativa do FMI de 10.000.000% para 2019; forte recessão com queda de 18% do PIB no ano passado.
“Este tipo de resultado não é fruto de coincidências peculiares ou desastres que ocorreram naquele país”, afirmam, para continuar: “Mesmo considerando a importância geopolítica da Venezuela e a disputa internacional sobre este país, que certamente tem contribuição relevante para sua instabilidade, isto é consequência de políticas que levaram à erosão das instituições nacionais, que tiraram o controle dos rumos do país de seu povo e deixaram na mão de um grupo fechado de poucos privilegiados, entre militares de alto escalão e políticos civis, que até hoje vivem em boas condições apesar do caos em que o país se encontra”.
Segundo os autores, esta erosão institucional iniciou antes de Chávez com a desorganização das finanças públicas, causada por uma má gestão dos royalties do petróleo e do despreparo do país para um cenário de queda de seu preço. “E se acentuou com uma série de ataques aos freios e contrapesos do sistema democrático, como a recomposição da Suprema Corte em 2004, ampliando o número de magistrados para nomeação daqueles favoráveis a Hugo Chávez, que proferiu escandalosas 45.474 sentenças de 2004 a 2013, sendo absolutamente todas favoráveis ao governo, conforme demonstrado no livro El TSJ a servicio de la Revolución”, escrevem.
Outros exemplos destas ações são, de acordo com os autores, a eliminação do limite de mandatos presidenciais por meio de referendo em 2009 e o controle crescente sobre a mídia. “Não foi preciso acabar com o voto para erodir a democracia. A manobra do referendo se deu, inclusive, pelo voto”, ressaltam. “A defesa contra este tipo de estratégia é difícil, pois estas ações normalmente se dão sob pretextos ricos em retórica popular, que vão da maior eficiência das instituições ao enfrentamento de grandes grupos privilegiados da mídia ou de setores empresariais, manipulando a opinião pública”, dizem.
Leia mais:
» Política Democrática: Ricardo Salles tenta confundir a opinião pública, afirma Bazileu Margarido
» Revista Política Democrática online: Base curricular em xeque, aponta Joaquim José Soares Neto
» André Amado publica artigo Porta dos Fundos na revista Política Democrática online
» Revista Política Democrática: “Não há o que celebrar pelo 31 de março”, diz Alberto Aggio
» Política Democrática online: Como os mais pobres poderão ser atingidos pela reforma da Previdência
» Demonização da esquerda já se aproxima de uma escalada muito perigosa, avalia Davi Emerich
» Raul Jungmann é o entrevistado especial da sexta edição da Revista Política Democrática Online
» Sérgio C. Buarque analisa a crise da Previdência em artigo na Revista Política Democrática
» Política Democrática mostra reforma da Previdência como desafio para destravar governo