Professor da Unesp afirma, em artigo publicado na revista Política Democrática online de dezembro, que o objetivo do núcleo é suprir o presidente eleito de recursos técnicos, políticos e intelectuais
Por Cleomar Almeida
Em artigo publicado na edição deste mês de dezembro pela revista Política Democrática online, o professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Marco Aurélio Nogueira afirma que , para ter sucesso, Bolsonaro “necessita de uma equipe para governar”. “Algo que não se resume a um ministério e se aproxima muito mais da conhecida ideia de um ‘núcleo duro’”, afirma o analista político.
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Nogueira, que também é colunista do jornal O Estado de S. Paulo, explica que o chamado núcleo duro tem como finalidade suprir Bolsonaro dos “recursos técnicos, políticos e intelectuais”. O objetivo disso, de acordo com o professor da Unesp, é que a máquina governamental gire com alguma suavidade, produza resultados e supere as dificuldades que se manifestarão na tomada de decisões. “Ao lado desse ‘núcleo’ e em princípio subordinado a ele, distribuir-se-á o ministério propriamente dito”, ressalta.
Militares da reserva, conforme observa Nogueira, “compõem a vértebra da equipe principal.” “Obedece-se a uma regra prudencial tradicional: o ‘comandante’ chama para auxiliá-lo aqueles em quem confia e com quem compartilha valores e experiências comuns”, afirma ele no artigo, para acrescentar: “Os demais ministros ficariam como uma espécie de ‘segundo time’ destinado a tocar a rotina da administração, angariar apoio político-parlamentar e ativar as faces do governo que ‘dialogam’ com os eleitores que escolheram o programa Bolsonaro”.
No segundo time, como pondera o analista político, estão os ministros mais propriamente ideológicos (Educação e Relações Exteriores), que, conforme escreve no artigo, foram encarregados da agitação e propaganda do novo governo, ajudando-o a travar a guerra cultural com que se comprometeu. “Ao grupo militar mais coeso estão sendo agregados os ministros da Economia e da Justiça, a família Bolsonaro e um vetor propriamente político encarnado no deputado Onyx Lorenzoni”, acentua.
Coordenador do Núcleo de Estudos e Análises Internacionais (Neai), vinculado ao Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais (IPPRI) da Unesp, Nogueira destaca que “falta ao novo governo precisamente aquilo que ele se dedicou a demonizar durante a campanha eleitoral: a política, com ‘p’ minúsculo e maiúsculo”. “Se, na corrida pelos votos, mostrava-se funcional a diatribe contra os políticos e seus ‘maus hábitos’ fisiológicos, agora, quando se inicia o trabalho governamental propriamente dito, a linguagem precisa ser requalificada”.
De acordo com o professor da Unesp, não se trata mais de capturar votos da população, “mas de articular os poderes e dar prumo a um governo com perfil mal definido, coisas que, de resto, dependem de muita política”. “O governo em formação tem dado atenção especial às frentes e bancadas suprapartidárias mais que aos partidos, consequência da visão de que as organizações partidárias fomentam ‘corrupção’ e pressões indevidas. Não leva em consideração que o sistema de representação tem nos partidos seu agente principal. Se persistir, tal prática será uma permanente fonte de tensão entre governo, parlamentares e opinião pública”, analisa Nogueira
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