É simbólico que, no tempo do Vidas Negras Importam, o estado da Geórgia tenha elegido seu primeiro senador negro na história. Foi um resultado apertadíssimo: com 98% das urnas apuradas, o reverendo Raphael Warnock, do Partido Democrata, vencia a senadora republicana Kelly Loeffler por 50,6% a 49,4%.
Mas a simbologia está por toda parte.
A Geórgia foi um dos mais seguros estados da Confederação que rompeu com os EUA para impedir a abolição, disparando a Guerra Civil. E a Batalha de Columbus, que encerrou a guerra, ocorreu no estado.
Warnock venceu no condado de Clayton, onde ficava a fictícia fazenda Tara, do romance “…E o Vento Levou” — um dos principais ícones daqueles que celebram a memória escravagista. Venceu, aliás, também no condado de Muscogee, onde a Guerra Civil terminou.
Ele é o pastor da Igreja Batista Ebenezer, de Atlanta — o seu é o mesmo púlpito no qual pregava Martin Luther King quando disparou, ainda nos anos 1950, o movimento dos Direitos Civis que marcou a década de 60.
Há vinte anos a Geórgia não elegia um senador democrata — elegeu um, e negro, no momento em que o presidente que deixa a Casa Branca passou quatro anos incitando movimentos supremacistas brancos.
Além disto, Warnock chegará a um Senado presidido, também pela primeira vez, por uma pessoa que não é branca. Este cargo cabe ao vice-presidente da República. À vice-presidente Kamala Harris.
A corrida eleitoral não terminou. O também democrata Jon Ossoff está por alguns milhares de votos à frente do senador republicano David Perdue e, se sua vitória for confirmada, Joe Biden presidirá nos dois primeiros anos de seu mandato com maioria no Congresso. Mas um símbolo importante foi posto.