João Vitor, da equipe da FAP*
Publicado em 1928, o poema No meio do caminho, de Carlos Drummond de Andrade, usa dois substantivos concretos e “desprovidos de carga poética”: a pedra e a retina. É o que diz o jornalista, escritor e professor Edmílson Caminha sobre a obra, que será discutida, nesta quinta-feira (16/12), a partir das 17 horas, em webinar de pré-celebração do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922.
O evento é da Biblioteca Salomão Malina e da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília. Com participação confirmada do jornalista, o webinar será transmitido na página da biblioteca no Facebook, no canal da entidade no Youtube e no site da fundação.
Dividido em duas estrofes, o poema conta que, no meio do caminho de Carlos Drummond de Andrade, havia uma pedra. De acordo com o jornalista, a pedra no caminho eram as dificuldades na vida e carreira do poeta. “A expressão ficou popular e passou a ser usada para simbolizar os transtornos”, diz Caminha.
Ele avalia que seria “forçação” dizer que a pedra no caminho eram os parnasianos e conservadores. “Prefiro ver o poema do ponto de vista formal”, explica. No entanto, ele lembra que a “crítica conservadora” não gostou da simplicidade e repetição dos versos.
Foi em uma entrevista de Caminha com Andrade, em 1984, que o poeta revelou ao jornalista que este era um poema experimental. “Andrade concluiu o objetivo dele de fazer uma poesia que fugisse da característica natural, mas que desse muita ênfase no ritmo”, conta Caminha.
A entrevista foi publicada no livro Palavra de escritor (204 páginas), da editora Thesaurus, em 1995. “Ele concedia poucas entrevistas e dizia que se fosse atender a todos, não teria tempo para escrever. Mas por amizade, ele me recebeu em sua casa e discutimos sobre essa e outras obras de sua autoria”, diz o jornalista.
Além de discutir o “poema sem poesia e sem sentimentalismo”, Caminha pretende abordar no webinar o evento de 120 anos de Carlos Drummond de Andrade, que ocorrerá em 2022, no Festival Literário Internacional de Itabira (Flitabira). “Ele estará em evidência máxima ano que vem”, ressalta.
O autor
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) foi poeta, contista e cronista brasileiro do período do modernismo. Na cidade do Rio de Janeiro, na praia de Copacabana, está a estátua em homenagem a ele conhecida como “O Pensador”.
A seguir, confira o poema:
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
*Integrante do programa de estágios da FAP, sob supervisão do jornalista e editor de texto Cleomar Almeida
Webinário sobre Carlos Drummond de Andrade e a pedra no caminho
Dia: 16/12/2021
Transmissão: a partir das 17h
Onde: Perfil da Biblioteca Salomão Malina no Facebook e no portal da FAP e redes sociais (Facebook e Youtube) da entidade
Realização: Biblioteca Salomão Malina e Fundação Astrojildo Pereira
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