Nas entranhas da economia, o macroambiente de negócios inclui pelo menos seis variáveis: sociais, ecológicas, legais, tecnológicas, políticas e demográficas. De forma geral, se fosse possível estabelecer um ranking, os especialistas acreditam que o último desses fatores seja o mais emblemático para um crescimento sustentável, pois trata do tamanho da população, da taxa de natalidade, da distribuição de renda, da expectativa de vida e do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Tudo junto é capaz de influir positivamente ou não no futuro de país. Na prática, isto significa que análises demográficas seriam mais importantes do que as avaliações sobre as taxas de inflação e os juros, as balanças comercial e de pagamentos, o emprego, a renda e a infraestrutura. Reforço: é impossível isolar hierarquicamente tais coisas, mas aqui trataremos tudo isso num livre exercício de riscos e cenários, antes que alguém se sinta estimulado a começar a atirar pedras.
A demografia superaria, assim, nesse ranking fictício, leis tributárias e trabalhistas, resultados eleitorais e impactos tecnológicos. A análise de cenários e riscos, portanto, deveria levar em conta o crescimento ou a queda na população. Isso tem a ver com a atual política brasileira, principalmente às vésperas da votação da reforma da Previdência. Nos estudos das tendências estruturais, há a previsão de envelhecimento da população e a queda da taxa de natalidade nos países de Terceiro Mundo. Mais uma vez, tais coisas são mais fortes do que as revoluções tecnológicas e até mesmo aspectos ambientais – como, por exemplo, a escassez de água –, por mais fortes que tais comparações possam parecer.
Quanto mais o país demorar a encarar a reforma da Previdência, pior para os brasileiros, algo que só se complicará para as próximas gerações. E aqui os sindicatos de servidores públicos e de trabalhadores da iniciativa privada terão de ser cobrados no futuro pelos atos irresponsáveis de não defenderem o debate efetivo. E tal cobrança será feita pelos filhos e netos, pois serão eles os mais prejudicados com ausência de mudanças na legislação.
Referendar estudos contaminados sobre a saúde do Estado é fechar os olhos para governos estaduais. Mesmo com todos os desmandos políticos e toda a corrupção instalada, negar o déficit é quase uma covardia com os que virão. O mais contraditório disso está no fato de os sindicatos se apoiarem na base mais fisio- lógica do governo federal no Congresso Nacional para isolar qual- quer possibilidade de debate.
Rombo
O rombo do Instituto Nacional do Seguro Social (lNSS) chega hoje a R$ 150 bilhões.
Temos ainda uma conta de mais R$ 77 bilhões no serviço público – e não adianta a tal conversa do tal fundo do funcionalismo, pois o Estado continua a ser mais do que generoso com a turma. Antes da sanha endoidecida recair sobre este articulista, entretanto, vale dizer que, sim, há poucas iniciativas mais nobres e efetivas do que oferecer proteção ao servidor público. Um Estado só avança com políticas públicas elaboradas por gente séria e com estabilidade, livre de pressões e perseguições políticas. Mas isso não significa que os funcionários possam inviabilizar uma discussão necessária e urgente, independentemente de ser travada por governos de centro, direita ou esquerda. Na falsa polêmica dos contrários a qualquer reforma, os mais prejudicados seriam os mais pobres.
Como se disse, é falso e, mais uma vez, um argumento covarde na tentativa de justificar a manutenção de privilégios.
Um país, para apresentar qualquer crescimento, precisa de crescimento sustentável e de igualdade social. Apenas uma sociedade justa é capaz de se proteger do autoritarismo e de defender políticas mais amplas, favoráveis ao crescimento, implodindo uma casta política.
Assim, mesmo que o governo Michel Temer não consiga mexer no texto da Previdência, as mudanças serão feitas um dia, caso o país pretenda oferecer algum alento para a população mais pobre. Apenas um candidato cínico será capaz de ser contra mudanças previdenciárias. E teremos um encontro marcado com a reforma, queiram os corporativistas ou não. O Planalto sabe das dificulda- des de votar o texto até o fim do ano.
As chances de o país voltar à inflação e aumentar o desemprego parecem reais, distantes de qualquer chance efetiva de crescimento. A saída seria acreditar que os concorrentes ao Palácio do Planalto sejam capazes de abrir a discussão com a sociedade. Mas aí é ser otimista em demasia. Não custa.
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