Lucas Ferrante e Philip M. Fearnside / Amazônia Real
Publicamos uma correspondência na prestigiada revista Nature [1] em 20 de janeiro de 2022, disponível aqui, que explica como as exportações brasileiras impulsionam o desmatamento e o raciocínio para boicotes de importadores. Segue uma tradução do conteúdo:
O desmatamento no Brasil hoje está ameaçando o último grande bloco de floresta amazônica intacta. Instamos os países que importam grandes quantidades de soja e carne bovina do Brasil a tomarem medidas para deter essa destruição.
Cerca de 9,5% da soja exportada do Brasil e 5,3% de sua carne bovina vão para países europeus, com outros 79% e 52%, respectivamente, indo para a China [2]. Os importadores devem mudar para outros exportadores até que o Brasil elimine o desmatamento causado pela exportação.
O desmatamento no Brasil atingiu um recorde para os últimos 15 anos, com um salto de 22% na taxa anual [3]. Há anos, os pecuaristas do estado de Mato Grosso vendem suas pastagens por preços altos para produtores de soja e compram terras baratas mais ao norte para desmatar para a produção de carne bovina.
A prática agora está se movendo para o oeste do estado do Amazonas, onde a rodovia BR-319 (Manaus–Porto Velho) está fazendo incursões em uma vasta área de floresta tropical [4]. Os plantadores de soja do Mato Grosso já estão comprando as terras de fazendeiros em Rondônia, que, por sua parte, então adquirem terras baratas nesta nova fronteira.
Amplificar esse ciclo de desmatamento vai contra o compromisso do Brasil de mitigar as emissões de carbono [5].
A imagem que ilustra este artigo mostra área de desmatamento no Pará para o plantio de soja (Foto: INPE).
Notas:
[1] Ferrante, L. &P.M. Fearnside. 2022. Countries should boycott Brazil over export-driven deforestation. Nature 601: 318.https://doi.org/10.1038/d41586-022-00094-7
[2] Fearnside, P.M. 2021. China´s carbon emisson in Brazil, Science 373 : 1209-1210.
[3] Álvares, D. 2021. Sources: Brazil withheld deforestation data ’til COP26’s end. AP News, 19 de novembro de 2021.
[4] Fearnside, P.M. 2021. Audiências públicas BR-319: Um atentado aos interesses nacionais do Brasil e ao futuro da Amazônia. Amazônia Real, 28 de setembro de 2021.
[5] Ferrante, L. & P.M. Fearnside. 2021. Brazil’s deception threatens climate goals. Science 374: 1569.
Os Autores
Lucas Ferrante é doutorando em Biologia (Ecologia) no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Tem pesquisado agentes do desmatamento, buscando políticas públicas para mitigar conflitos de terra gerados pelo desmatamento, invasão de áreas protegidas e comunidades tradicionais, principalmente sobre Terras indígenas e Unidades de Conservação na Amazônia.
Philip Martin Fearnside é doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA) e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM), onde vive desde 1978. É membro da Academia Brasileira de Ciências. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007. Tem mais de 700 publicações científicas e mais de 500 textos de divulgação de sua autoria que estão disponíveis aqui: http://philip.inpa.gov.br.
Fonte: Amazônia Real
https://amazoniareal.com.br/paises-devem-boicotar-o-brasil-por-causa-do-desmatamento-impulsionado-pela-exportacao/