Política ambiental de Bolsonaro faz sempre o oposto do que indicam a ciência e o bom senso
Os incêndios que podem ter destruído 15% do Pantanal tiveram origem em queimadas para fazer pasto —pelo menos é o que apontam as investigações da Polícia Federal.
Não são apenas a irresponsabilidade dos fazendeiros e a maior seca na região em 60 anos as causas dos incêndios. A atroz política ambiental do governo Bolsonaro é componente central do colapso ambiental, tanto na Amazônia como no Pantanal —não importa o que o presidente diga hoje na Assembleia-Geral da ONU.
Desde a campanha eleitoral, Bolsonaro não abraçou uma postura pró-mercado, pragmática, descuidada com a pauta ambiental —adotou uma postura abertamente antiambiental. Nessa matéria, como noutras, a ardorosa adesão às guerras culturais o tornou surdo às críticas e cego às consequências das ações.
Quando o desastre no Pantanal já não podia mais ser minimizado, Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, atribuíram os incêndios não às queimadas criminosas dos pecuaristas, que a PF agora investiga, mas a uma suposta redução da atividade pecuária na região.
A tese, conhecida como a do “boi-bombeiro”, é a de que os bois consumiriam a vegetação seca acumulada, reduzindo o risco dos incêndios. O presidente e o ministro insistem na tese contra as evidências de que o aumento dos incêndios é acompanhado do aumento da pecuária —não da sua redução.
Salles também alega que os incêndios se devem não às queimadas, como as investigadas pela polícia, mas à excessiva regulamentação das queimadas, que impediria os fazendeiros de fazer o controle do excesso de vegetação seca, o chamado “fogo frio”.
Em resumo, enquanto cientistas e especialistas orientam a reduzir a atividade pecuária e a controlar as queimadas na região, a política ambiental do presidente quer ampliar a atividade pecuária e desregulamentar ainda mais as queimadas.
Tudo com o nosso presidente está de trás para a frente, de pernas para o ar, é do avesso.
Como todas as ações do governo são orientadas pelas paranoias delirantes das guerras culturais, ele acredita que orientações de cientistas e de ONGs ambientalistas são informadas por planos secretos de conquista da Amazônia e que hiperpolitizados são os críticos. Ele, claro, é um capitão sensato –e um patriota.
Como não há esperança de fazer o presidente e seus ministros olharem para as evidências empíricas, tudo o que nos resta é torcer para que a péssima imagem ambiental do país atrapalhe as exportações e crie constrangimentos econômicos que ponham limite às maluquices ideologizadas da turma verde-oliva.
*Pablo Ortellado, professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, é doutor em filosofia.