Os órfãos da globalização são a classe média dos países desenvolvidos, afirma Demétrio Magnoli

Terceiro palestrante da mesa “A Globalização e a Mudança nas Estruturas das Sociedades”, o sociólogo Demétrio Magnoli associou fatos como a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, o Brexit na Grã-Bretanha e a ida de Marine Le Pen ao segundo turno da França à queda na renda da chamada “classe média tradicional”, em função de dois fenômenos: a estagnação secular (queda do PIB nos países desenvolvidos) e o enfraquecimento do centro político tradicional.
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Terceiro palestrante da mesa “A Globalização e a Mudança nas Estruturas das Sociedades”, o sociólogo Demétrio Magnoli associou fatos como a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, o Brexit na Grã-Bretanha e a ida de Marine Le Pen ao segundo turno da França à queda na renda da chamada “classe média tradicional”, em função de dois fenômenos: a estagnação secular (queda do PIB nos países desenvolvidos) e o enfraquecimento do centro político tradicional.

Magnoli exibiu um gráfico da evolução da renda nos últimos 30 anos, deixando claro que não houve oscilação nas camadas mais pobres e mais ricas, ao contrário do que aconteceu com dois grupos intermediários: a chamada “classe média baixa do mundo”, a nova classe média da Ásia e da América Latina teve um aumento de cerca de 75% na renda; já a classe média tradicional, formada pelas famílias tradicionalmente ligadas à indústria nos países desenvolvidos, teve perdas consideráveis neste período. “Esses são os verdadeiros órfãos da globalização”, disse.

“Um duplo fenômeno ajuda a explicar a estagnação secular: envelhecimento da população, com redução dos economicamente ativos, e a rápida inovação tecnológica, que destruiu a indústria tradicional”, afirmou. “Por sua vez, a estagnação secular ajuda a explicar a queda de renda da classe média tradicional. E isso explica o crescimento dos movimentos nacionalistas, ditos de direita”, completou.

Segundo o sociólogo, houve também um deslocamento geográfico dos votos. Nos Estados Unidos, os votos liberais se concentraram em poucas grandes cidades, enquanto o voto conservador se distribuiu em um grande número de pequenas localidades. “As pessoas se segregam cada vez mais do ponto de vista político e cultural que do ponto de vista da renda. Moram onde há um pensamento semelhante ao delas, ficam isoladas em guetos culturais”, acrescentou.

“Trump ganhou porque venceu num pequeno número de estados do meio-oeste americano, onde vivem os trabalhadores de grandes indústrias. Essas pessoas historicamente votavam nos liberais, no Partido Democrata, mas, como foram expulsos do setor industrial tradicional, traem seu antigo partido e tomam uma postura mais nacionalista”, explicou.

“No caso do Brexit, a diferença pró-saída se deu em função da traição do eleitorado do centro da Inglaterra, das antigas regiões industriais que sempre votaram nos Trabalhistas. Traíram o internacionalismo e votaram no nacionalismo. Já Le Pen foi votada pelos filhos dos antigos eleitores comunistas da França”, disse.

“O enfraquecimento do centro político tradicional, tanto a centro-direita quanto a centro-esquerda, também tem causas ligadas à globalização. Os social-democratas tentam apelar aos jovens, com uma série de ações ligadas às redes sociais”, avaliou Magnoli. Entretanto, ponderou, só conseguirão se se tornarem cada vez mais radicais de esquerda. “A centro-direita e a centro-esquerda perdem eleitorado e abrem caminho para opções cada vez mais dramáticas: os nacionalistas e a nova esquerda radical.”

Confira trecho de entrevista de Demétrio para FAP:

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