Oito presidenciáveis participaram do encontro na ‘Band’
Por Pedro Dias Leite, de O Globo
RIO — Os debates na TV, ainda mais no primeiro turno e com tantos participantes, costumam ser mais importantes por eventuais deslizes ou destemperos dos candidatos do que pela discussão de propostas ou desempenhos brilhantes. Salvo o último, tradicionalmente da Globo, a poucos dias da eleição, a audiência é baixa, o horário ingrato. Pouca gente de fato vê, muitos eleitores recebem as informações pela repercussão.
Então aqui vai uma análise do desempenho, sob o ponto de vista estratégico, de cada um dos oito participantes do primeiro debate desta campanha, ontem à noite, na TV Bandeirantes.
Jair Bolsonaro — O candidato do PSL conseguiu, pela terceira vez em dez dias, sair sem se comprometer (antes, já tinha ido ao Roda-Viva e à GloboNews sem grandes estragos na imagem). Apesar de alguns erros de postura (era o único sentado no banquinho no começo), não cometeu nenhum deslize sério, voltou a falar para o seu público, prometendo muita linha-dura e poucas propostas concretas. Reforçou, sempre que pôde, o laço com os militares, instituição bem avaliada em pesquisas. Inexperiente em debates, respondeu a perguntas incômodas, como a de ter recebido auxílio-moradia tendo apartamento próprio, e à contratação de uma assessora fantasma.
Marina Silva — Pela terceira vez seguida na disputa presidencial, Marina também se manteve fiel a seu estilo. Com a voz calma e o estilo do marinês, focou em sua trajetória pessoal, de analfabeta aos 16 anos até virar professora universitária, e lembrou o eleitorado de sua ficha limpa em tempos de Lava-Jato. Passou pelo debate sem grandes turbulências, equilibrando-se entre sua participação no governo Lula e o apoio ao impeachment de Dilma.
Ciro Gomes — O ex-governador conseguiu manter-se calmo e passou o tempo todo tentando transmitir um ar de simpatia. Diante de uma pergunta estapafúrdia de Cabo Daciolo, conteve o velho Ciro e deu uma resposta espirituosa, sobre a beleza e os custos da democracia (no caso, ter de ouvir aquela bobagem num debate presidencial). Os adversários, com medo da sua língua ferina, pouco o acionaram.
Geraldo Alckmin — O tucano foi o mais acionado pelos outros candidatos, mas nada de modo mais incisivo. Alckmin mostrou mais uma vez por que recebeu o apelido de picolé de chuchu, com um discurso técnico, que se por um lado não empolga o eleitor, por outro passa a imagem de um tecnocrata disposto a tocar um governo. Seu principal ponto fraco, como previsto, foi a aliança com o centrão — que, por outro lado, vai lhe garantir o maior tempo de TV e pode ajudar muito lá na frente.
Alvaro Dias — O ex-governador do Paraná, com bom desempenho no Sul do país, tentou se colocar como o candidato da Lava-Jato, até com a promessa de colocar o juiz Sérgio Moro como ministro da Justiça (falta combinar com o magistrado, que já repetiu milhares de vezes que não tem nenhum plano de entrar na política). Até o figurino, todo de azul, e que se confundia com o fundo do debate, lembrava o tom monocromático do juiz de Curitiba.
Guilherme Boulos — Com um jeito de falar que até lembrava o ex-presidente Lula, a quem citou logo em sua fala de abertura, o candidato do PSOL foi um dos mais articulados da noite. Com chance zero de chegar à Presidência, usou um estilo franco-atirador de debates do passado, com ataques diretos aos colegas e uma retórica focada no público de esquerda.
Henrique Meirelles — O ex-presidente do Banco Central ainda precisa treinar mais para os debates. Para tentar mostrar ao eleitor que entende de economia (o que é verdade), usou um tom professoral com os adversários, algo que nunca rende votos em debate. No passado, Cristóvão Buarque teve uma derrota famosa depois de dar uma lição em Joaquim Roriz num encontro na TV. A tarefa de ser o candidato do governo Temer é de fato inglória, e Meirelles tentou ligar-se aos anos de boom econômico do governo Lula e de saída da crise da gestão Temer.
Cabo Daciolo — Como diria o capitão Nascimento, o cabo foi o “fanfarrão” da noite. Não falou coisa com coisa e lembrou a quem assistiu ao programa como é baixa a qualificação de parte dos deputados federais. Só estava lá porque seu partido, o Patriotas, preenche o requisito mínimo que torna sua participação obrigatória em debates, de ao menos cinco parlamentares. Para ficar em dois exemplos: citou um plano socialista de dominação da América Latina e fim das fronteiras na região e terminou com um trecho inédito da Bíblia que cita a nação brasileira.