Brasil deve ter o maior número de candidatos a presidente desde 1989
Por Miguel Caballero, de O Globo
RIO — Do ângulo que se olhe, a pré-campanha presidencial revelou contornos inéditos que reforçam tradições. Ao mesmo tempo, apontam novidades e inviabilizam previsões. Líder nas pesquisas, Lula está preso e ainda assim o PT formalizou, em convenção, seu nome como o presidenciável do partido.
No início da primeira campanha sob efeito do tsunami da Lava-Jato, previu-se que a aversão popular à política tradicional aplainaria os caminhos para os outsiders. Luciano Huck e Joaquim Barbosa, todavia, irromperam na mesma velocidade com que desistiram da aventura. Eram 24 postulantes. Agora serão no máximo 15.
É possível que os quase-candidatos tenham chegado quando o espaço da insatisfação contra tudo que aí está já havia sido ocupado por Jair Bolsonaro (PSL). Nos cenários sem Lula, ele lidera as pesquisas, mas jamais, no mês de agosto, o primeiro colocado teve número tão baixo de intenção de votos (mal supera os 20%). Seu fracasso na tentativa de atrair aliados indica que suas chances de vitória não pareceram fortes o suficiente para convencer os maiores especialistas do país em farejar candidaturas vitoriosas: os partidos do centrão. Em comum com PT, PDT, Bolsonaro chega à reta final das convenções sem candidato a vice: ontem Janaína Paschoal disse não ao convite.
Na hora decisiva, partidos como PRB, SD e PSD cederam à força gravitacional da chapa de Geraldo Alckmin, formalizado ontem como candidato do PSDB. Em dois meses se saberá se o duelo entre petistas e tucanos vai para seu quinto round ou se a polarização será furada pela direita por Bolsonaro, pela esquerda por Ciro Gomes (PDT), por Marina Silva (Rede) ou por uma surpresa ainda fora de qualquer radar.