Pré-candidato tucano à Presidência defende o pragmatismo das alianças partidárias
Por Cristiane Jungblut, Maiá Menezes e Silvia Amorim, de O Globo
RIO — Visivelmente mais confortável depois de ter conseguido fechar a mais ampla aliança da eleição e de ter driblado as resistências do centrão para a escolha da senadora Ana Amélia (PP-RS) como vice, o pré-candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB) não esconde o pragmatismo das suas ações nas costuras políticas. Em entrevista ao GLOBO, ele afirma que o político que não faz alianças acaba “abandonado” e aposta que o centrão não será fisiológico em seu governo.
Perguntado como enfrentaria Jair Bolsonaro (PSL) mantendo seu estilo discreto, Alckmin faz uma parada para a quinta xícara de café durante uma hora de conversa e dispara: “Quem tem que que ter carisma é o povo. E não é chuchu. É picolé de chuchu, que é mais saboroso”, diz o tucano, rindo da própria afirmação inusitada.
O senhor diz que representa o “novo” nesta eleição. Como isso é possível se está há 40 anos na política e tem ao seu lado o centrão?
Primeiro, o novo não é não ter nenhuma experiência de administração pública ou nunca ter sido candidato. O novo é defender o interesse coletivo e mudar a política. É isso que queremos.
Mas são partidos pautados pelo fisiologismo há muitos governos…
Acho que as pessoas entendem o objetivo. Vocês fulanizam muito. O Valdemar Costa Neto (líder do PR) não é nem candidato. O PR tem o Josué Gomes, um dos melhores quadros desta nova geração. O fato é o seguinte: se você não faz aliança, você é criticado, está abandonado, não decola, vai ser cristianizado. Quando faz a aliança, dizem: “Puxa, a aliança é grande demais”. Na política, a gente tem que ter um foco: como é que vamos tirar o Brasil da crise. Esse é o foco e é isso que interessa.
Por que eles (o centrão) mudariam agora?
Eles vão ter que mudar porque farei um governo com rigor ético absoluto. O que eles querem é ser partícipes.
Os políticos querem mais do que isso…
Não há a menor hipótese de isso acontecer.
O senhor é alvo de uma investigação por suspeita de caixa 2 em 2010 e 2014. Seu cunhado, Adhemar Ribeiro, é apontado como arrecadador desses recursos. O senhor disse há algumas semanas que não é crime “apresentar pessoas”. Adhemar apenas apresentou doadores para as suas campanhas?
Ele nunca arrecadou, nunca foi da tesouraria do partido. Agora, uma pessoa que tem mulher banqueira e é dono de financeira tem relacionamentos. Qual é o problema nisso? Não levou pessoas, mas é claro que ele é uma pessoa bem relacionada. As minhas campanhas sempre foram rigorosamente dentro da lei.
Como pretende tratar o tucano Aécio Neves, réu na Lava-Jato?
Ele foi afastado da direção partidária e ainda não foi julgado. Se for condenado, não vamos passar a mão na cabeça de ninguém.
Outro ator central na Lava-Jato é o Supremo Tribunal Federal. O senhor é a favor do mandato vitalício dos ministros?
Vi um candidato (Jair Bolsonaro) dizendo que vai dobrar o número de ministros. O sujeito quer fazer da Suprema Corte um puxadinho do Executivo, como na Venezuela. Negativo. Acho que deve ser debatida a alternativa de modelo de mandato para os ministros.
O senhor promete quatro reformas (tributária, previdenciária, política e de Estado). Terá cacife político para isso?
Essas reformas mais de fundo precisam ser feitas no começo da legislatura, quando o presidente tem mais legitimidade, voto e força.
Para que as reformas avancem, é fundamental aliados no comando do Congresso. O sr. se comprometeu com a reeleição do deputado Rodrigo Maia para a Câmara?
Minha opinião sobre o Rodrigo Maia é a melhor possível. Mas essa coisa de ficar articulando eleição de mesa legislativa antes da hora não é do meu estilo. Pretendo ter como maior aliado no parlamento a sociedade.
O senhor fala em reduzir ministérios, mas não diz para quantos. O eleitor não merece um pouco mais de clareza para decidir o seu voto?
Não vou anunciar isso durante a campanha. Estou dizendo que vou reduzir. Os detalhes serão ditos pela dinâmica do governo.
O PSDB terá a maioria dos ministérios?
Quem vai ter a maior parte dos ministérios é o povo.
Vai aceitar indicações do centrão?
Podem sugerir (nomes). Mas claro que vou escolher. Nas agências reguladoras, aí não. Só serão técnicos. As agências reguladoras serão despartidarizadas.
A escolha da senadora Ana Amélia (PP-RS) para vice já entra na cota do PP?
Escolhi a candidata a vice que eu quis. Não existe cota. Todos os partidos têm bons quadros. A senadora era o nome ideal. Ela é ligada ao agronegócio, respeitada e admirada, um quadro extraordinário.
Vai privatizar quais estatais?
O que não vamos privatizar é o Banco do Brasil e a Petrobras. Estamos estudando a questão da Caixa Econômica Federal, que tem prós e contras. É importante dizer que não vamos privatizar a Petrobras, mas a área de transporte e de distribuição sim. O episódio da greve dos caminhoneiros é ruim, porque vai afastar investidores. O Brasil está exportando petróleo e importando derivados.
Seu fraco desempenho em São Paulo pode ser entendido como rejeição à sua figura?
Não. Ela é resultado da falta de interesse das pessoas na eleição neste momento.
O senhor terá que tirar votos de Jair Bolsonaro (PSL), que tem um estilo bem diferente do seu. Ser o “chuchu” nessa hora atrapalha?
Quem tem que ter carisma é o povo. Governo não deve girar em torno de astros. Isso é coisa do passado. Vou ser o que sempre fui: discrição, humildade, simplicidade. Governante é para resolver problemas da população. Não quero espetáculo, nem sair dando tiro. Quero colocar o Brasil no rumo do crescimento. Só faço um reparo. Não é chuchu, é picolé de chuchu, que é mais saboroso.
Um dos maiores problemas da segurança pública é o domínio das facções criminosas. O maior grupo atuante no país nasceu e se expandiu a partir de São Paulo, chegando a outros países. Seu governo não tem parcela de responsabilidade nisso?
São Paulo tem os melhores indicadores do país. Tínhamos 11 mil homicídios por ano em São Paulo e, em 2017, foram 3.503. Não vai ter mágica para resolver a violência no país, mas dá para reduzir. Estados e municípios terão metas de redução. Não tem um líder de facção criminosa em São Paulo que não esteja preso.
O senhor tem prometido acabar com privilégios com a reforma da Previdência. O presidente Temer tirou da reforma os servidores das Forças Armadas e das polícias militares. Vai manter isso?
As Forças Armadas passarão por reforma, mas separadamente. No mundo todo, elas têm um regime de previdência próprio.
Isso não é manter privilégios?
Vai ter reforma, mas com regras diferentes. Vou criar o regime geral de previdência para os servidores de todos os poderes com o teto do INSS. Não tem sentido ter dois tipos de cidadãos. Quem quiser benefício maior, vai para a previdência complementar. Fiz isso em São Paulo.