Para subprocuradores e procuradores, a fala do ex-juiz federal da Lava Jato aponta indícios de envolvimento de Bolsonaro nos crimes de responsabilidade, falsidade ideológica, prevaricação, coação, corrupção, advocacia administrativa e até obstrução de Justiça
Rafael Moraes Moura, O Globo
As declarações do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, podem levar o presidente Jair Bolsonaro a ser investigado por sete crimes, avaliam integrantes do Ministério Público Federal (MPF) ouvidos reservadamente pelo Estado/Broadcast. Para subprocuradores e procuradores, a fala do ex-juiz federal da Lava Jato aponta indícios de envolvimento de Bolsonaro nos crimes de responsabilidade, falsidade ideológica, prevaricação, coação, corrupção, advocacia administrativa e até obstrução de Justiça.
Uma das consequências da fala de Moro é aumentar a pressão sobre o procurador-geral da República, Augusto Aras, criticado pelos seus pares por, na visão deles, não agir para frear os excessos do Palácio do Planalto. Integrantes do Ministério Público Federal (MPF) veem elementos suficientes para que Aras já acione o Supremo Tribunal Federal (STF) para solicitar a abertura de uma investigação contra o presidente da República. Cabe ao PGR pedir a abertura de um inquérito contra Bolsonaro na Suprema Corte.
Aras ainda está analisando as declarações de Moro. No momento da coletiva do ex-juiz federal da Lava Jato, o procurador-geral da República cumpria agenda com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. Para uma fonte, as declarações de Moro poderiam até mesmo fundamentar neste momento uma denúncia da GR contra Bolsonaro. Nesse caso, caberia à Câmara dos Deputados decidir dar prosseguimento ou não à acusação, o que poderia levar ao afastamento do presidente da República de suas funções.
Interferência. Um dos pontos mais destacados por membros do MPF foi a interferência política de Bolsonaro sobre a Polícia Federal. De acordo com o ex-juiz federal da Lava Jato, o presidente também demonstrou preocupação com o andamento de inquéritos sigilosos do Supremo Tribunal Federal (STF) que já miraram empresários bolsonaristas e sua militância digital.
“O presidente me disse que queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse colher informações, relatórios de inteligência, seja diretor, superintendente, e realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação. As investigações têm de ser preservadas”, disse Moro, ao comentar as pressões de Bolsonaro para a troca no comando da PF.
Também chamou a atenção de membros do MPF a fala de Moro sobre a exoneração de Maurício Valeixo da direção-geral da PF. Segundo Moro, embora o documento de exoneração conste que Valeixo saiu do cargo “a pedido”, o diretor-geral não queria deixar o cargo. O próprio Moro, que aparece assinando a exoneração, afirmou que foi pego de surpresa pelo ato e negou que o tenha assinado. Para investigadores, isso poderia configurar falsidade ideológica.
Um renomado criminalista, no entanto, observou que seria difícil comprovar a culpa do presidente nesse episódio, ou seja, responsabilizar diretamente Bolsonaro pela publicação da exoneração.