Presidente já se dirigiu a repórteres com frases homofóbicas e de cunho sexual, além de ter sugerido obstáculos à atividade da imprensa
RIO — O ataque do presidente Jair Bolsonaro a um repórter do GLOBO neste domingo é mais um episódio de uma série de agressões verbais à imprensa durante o atual governo. O presidente, que declarou ter vontade de “dar porrada” no jornalista ao ser perguntado sobre cheques repassados pelo policial reformado Fabrício Queiroz à primeira-dama Michelle Bolsonaro, terminou 2019 com 116 ataques à imprensa contabilizados pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
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Neste ano, durante a pandemia da Covid-19, Bolsonaro seguiu reagindo de forma agressiva a perguntas de jornalistas, inclusive mandando a imprensa “calar a boca”. Relembre a seguir alguns dos episódios de ataques do presidente:
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‘Cara de homossexual terrível’
Em dezembro, Bolsonaro já havia atacado a imprensa ao ser questionado sobre a investigação da prática de rachadinha envolvendo um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Queiroz, ex-assessor de Flávio e suspeito de articular o desvio de verba pública na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), foi alvo de busca e apreensão do Ministério Público do Rio (MP-RJ) no fim do ano passado. A operação também mirou uma loja de chocolates, suspeita de ser usada para a prática de lavagem de dinheiro, que tem Flávio entre seus sócios.
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Questionado sobre o assunto na entrada do Palácio da Alvorada, Bolsonaro se dirigiu de forma homofóbica a um repórter do GLOBO e afirmou que o jornalista tinha “uma cara de homossexual terrível”.PUBLICIDADE
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À época, questionado também sobre os cheques repassados por Queiroz a Michelle, o presidente afirmou não ter um recibo do suposto empréstimo feito ao ex-assessor de seu filho, e voltou a se dirigir de forma ofensiva aos jornalistas:
— Pergunta para a tua mãe o comprovante que ela deu pro teu pai, está certo? Querem comprovante de tudo — disse Bolsonaro.
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‘Ela queria dar o furo a qualquer preço’
Em fevereiro deste ano, Bolsonaro insultou uma repórter do jornal “Folha de S. Paulo” com uma insinuação de cunho sexual. Durante entrevista na porta do Alvorada, enquanto interagia também com apoiadores, o presidente referiu-se ao depoimento de Hans River do Nascimento, ex-funcionário de uma agência de disparos em massa por WhatsApp, concedido à CPMI das Fake News.
No depoimento, o ex-funcionário mentiu sobre a conduta da jornalista, que fazia uma reportagem sobre supostos disparos ilegais na eleição presidencial de 2018. Bolsonaro reproduziu a versão mentirosa de Hans River, usando um trocadilho:
— Ela (repórter) queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim — afirmou o presidente.
Em nota conjunta divulgada à época, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) afirmaram que Bolsonaro “repete as alegações que a Folha já demonstrou serem falsas” e que os ataques do presidente “são incompatíveis com os princípios da democracia”. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), que também condenou a fala de Bolsonaro, afirmou que “este comportamento misógino desmerece o cargo de Presidente da República”.
‘Cala a boca, não perguntei nada’
Em maio, perguntado se havia pedido a substituição do superintendente da Polícia Federal (PF) no Rio, Bolsonarou reagiu aos gritos com a frase “cala a boca, não perguntei nada”.
O ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que havia deixado o cargo duas semanas antes, declarou à época que o presidente tentava interferir politicamente na PF. Bolsonaro, depois de mandar a imprensa calar a boca, afirmou que o então superintendente do Rio, Carlos Henrique Oliveira, estava deixando o cargo “para ser diretor-executivo” da corporação, nomeação feita na semana seguinte.
Na ocasião, a Associação Nacional dos Jornais (ANJ) afirmou, em nota, que o presidente mostrava “sua incapacidade de compreender a atividade jornalística”, além de externar “seu caráter autoritário”.
Ameaças à atividade jornalística
Em mais de uma ocasião, Bolsonaro já insinuou que poderia impor obstáculos à atividade de empresas de comunicação. Em outubro do ano passado, após a TV Globo veicular reportagem sobre a investigação do caso Marielle Franco com o depoimento de um dos porteiros do condomínio onde morava Bolsonaro, o presidente acusou a emissora de “canalhice” e “patifaria”, e sugeriu que poderia não renovar a concessão do canal.
Em abril deste ano, na mesma entrevista em que disse “e daí?” ao ser questionado sobre as mortes em decorrência do novo coronavírus, Bolsonaro voltou a insinuar que “se não tiver tudo certo, não renovo a (concessão) de voces nem a de ninguém”, usando a expressão “imprensa lixo”.
No fim do ano passado, o presidente disse que havia determinado o cancelamento de todas as assinaturas da “Folha de S. Paulo” em órgãos do governo federal, e recomendou também, em tom de ameaça, que os anunciantes do jornal deveriam “prestar atenção”. Em outra entrevista, também em 2019, o presidente voltou a se dirigir a anunciantes, ao declarar que não compraria produtos com publicidade veiculada no jornal.
— Recomendo a todo Brasil aqui que não compre o jornal Folha de S. Paulo. Qualquer anúncio que faz na Folha eu não compro aquele produto e ponto final — afirmou.