Partido em crise de identidade corre risco de perder coerência ideológica
Por Paulo César Pereira
BRASÍLIA — O governador Geraldo Alckmin assume hoje o PSDB com um desafio extraordinário. Desde a fundação do partido em 1988, os tucanos jamais enfrentaram crise tão grave quanto a atual. Se a gravação do senador Aécio Neves negociando R$ 2 milhões com Joesley Batista confirmou que os tucanos haviam aderido às piores práticas da política brasileira, a falta de um mínimo de coerência ideológica pode tirar da legenda o que lhe resta de credibilidade administrativa.
Os tucanos sempre foram alvo de críticas pela dificuldade em tomar decisões. Tucanar virou um verbo folclórico, mas ainda assim o eleitorado sabia, eleição após eleição, que o PSDB era um dos partidos brasileiros relevantes com ideologia definida — uma social-democracia, na qual o liberalismo econômico era equilibrado por um conjunto de políticas sociais. Sua contraface era o PT, e não à toa eles rivalizaram as seis últimas eleições presidenciais. Mas isso pode estar chegando ao fim.
Ironicamente, justo no momento em que a pauta econômica liberal parece encontrar algum lastro — ainda que modesto — na sociedade brasileira, os tucanos parecem dispostos a largar seu posto de representantes da racionalidade fiscal para se converterem em mais um amontoado de políticos que não consegue vocalizar uma pauta comum e responsável.
Dividido até em relação a um tema como a reforma da Previdência, o PSDB parece prestes a cair no populismo que durante muito tempo seus eleitores tentaram evitar. E há poucas formas tão eficientes para se tornar mais uma legenda desimportante quanto abandonar bandeiras históricas em nome de uma popularidade sabidamente fugaz.