Presidente nacional do PPS diz que trabalha para consolidar pré-candidatura tucana, mas não descarta apoio à sigla da ex-ministra
Por Emanuel Bomfim e Pedro Venceslau, de O Estado de S.Paulo
O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, disse, em entrevista ao Estado e à Rádio Eldorado, que o centro político do País está se afunilando em torno de dois nomes nas eleições 2018: o tucano Geraldo Alckmin e Marina Silva, da Rede. Freire avalia que o debate eleitoral ocorre em meio a um momento de raiva e indignação. “As pessoas estão escolhendo com o fígado. É nesse tom de raiva que cresce o Bolsonaro.” Abaixo os principais trechos da entrevista:
O nome do sr. foi apontado por emissários de Marina Silva como possível vice dela. Como avalia essa tentativa de aproximação?
É claro que é uma honra ser lembrado, ainda mais por uma pessoa que merece ser respeitada como Marina. Mas foi algo que surgiu mais pela imprensa e por pessoas ligadas a ela. Não houve nenhuma conversa entre nós. Isso só é possível de ser discutido se o PPS porventura entender que não tem que cumprir com o indicativo que aprovou em seu congresso nacional, de apoio ao Geraldo Alckmin. Eu como presidente do partido vou fazer cumprir a decisão do congresso. Posso adiantar que não cumpro apenas por dever de ofício, mas por achar que a melhor opção que temos.
Está 100% descartada qualquer possibilidade do PPS formar uma aliança com Marina?
Se eu disser que não é 100%, a manchete vai ser: ele admitiu. Não posso dizer qual será o cenário futuro, mas estou trabalhando para consolidar a candidatura de Geraldo Alckmin. Ele fez uma boa gestão em São Paulo, é um homem tolerante e moderado. O Brasil está precisando disso. O Brasil perdeu qualquer possibilidade de tolerância.
O PPS apoia o movimento que tenta unificar as candidaturas do centro em uma só. Para isso, alguém precisaria abrir mão. Marina pode ser essa candidata?
Nenhum desses candidatos vai dizer que não é. Ninguém começa uma discussão dessa abrindo mão. Mas a coisa está afunilando.
Em torno de quem?
Ainda não de um, mas dois nomes: Alckmin e Marina.
Por quê Alckmin não decola nas pesquisas?
A palavra da moda é essa: ‘não decolou’. As pesquisas não podem ser levadas ao pé da letra. Elas têm distorções gravíssimas. O ex-presidente da República (Luiz Inácio Lula da Silva) foi condenado a pena de reclusão e está ainda nos cenários. Vocês acham que o brasileiro vai ser ingênuo de acreditar que quem não participa de debate tem algo a dizer ao País? Nesse momento a raiva é fundamental, a indignação. As pessoas estão escolhendo com o fígado. É nesse tom de raiva que cresce o (Jair) Bolsonaro (pré-candidato do PSL).
Classe política e eleitores estão apartados hoje?
Eu diria que temos um centro eleitoral que não se decidiu. E ele representa a ampla maioria da sociedade brasileira. Esse centro da direita à esquerda democrática que ainda não se encontrou. Nesse cenário, as forças políticas começam a se afunilar. As forças políticas começam a se aproximar do Geraldo, e da Marina, por conta de seu recall.
Há uma tentativa da Marina de se aproximar do PPS? Como enxerga esse movimento?
Como uma tentativa dela de fugir do isolamento. Ela jantou ontem (nesta quarta-feira, 20) com o Luciano Huck. Falei com ele. Um das coisas que eu disse foi que é ótimo que conversem. Precisamos ter cuidado para não ficarmos ansiosos. De 1990 para cá, as eleições coincidem com Copa do Mundo. Em todas, as chapas já estavam formadas na abertura da Copa e as coligações consolidadas. Os candidatos estavam assistindo aos jogos. A Copa já começou e não tem nenhuma chapa organizada em nenhum lugar do País. Estamos vivendo uma crise e ela está impactando nesse processo. Será que a gente pode falar que outsider vai presidir essa eleição. Teve um momento que sim.
O sr. trabalhou por um, que foi o Luciano Huck…
Estávamos trabalhando para isso. Tínhamos a compreensão que um outsider ganharia essa eleição. Era ele, depois o Joaquim Barbosa. Quem é agora?
O sr. achava naquele momento que o Huck era um candidato mais competitivo que o Alckmin?
Eu achava que ela era um candidato que poderia representar um sentimento que iria crescer. Ele trazia a celebridade e tinha uma presença na sociedade. Isso aconteceu também com o Joaquim Barbosa.
Sem eles dois, avalia que Marina Silva estaria mais próxima desse perfil que o eleitorado magoado com a política?
Tenho medo que esse pessoal magoado com a política vá se omitir. Experimentamos isso no Tocantins.
O Rodrigo Maia chamou essa articulação do centro de conversa de bêbado…
Conversa de bêbado é muito boa porque você delira de vez em quando. Mas não serve para a política.
O sr. deixou o governo Michel Temer após o caso envolvendo o Joesley Batista. Como avalia a gestão e a candidatura do ex-ministro Henrique Meirelles?
Tive clareza de sair do ministério (da Cultura) porque achava que a partir daí o governo entraria em processo de desgaste. Mas sabendo que foi uma irresponsabilidade sem tamanho do (ex) procurador-geral da República (Rodrigo Janot). Hoje é um governo com uma tremenda fragilidade que está cumprindo tabela.
Um candidato apoiado por Lula estará no 2.° turno?
Não necessariamente. Precisa saber qual será. Teve um momento que imaginavam que poderia ser o Ciro (Gomes). Em 2002, quando ele foi candidato pelo PPS, teve um momento que achamos que ele poderia ganhar as eleições. Ele jogou fora isso já no meio da campanha por uma série de problemas. Um certo descontrole. Ciro tem o que dizer, mas por conta de um certo desequilíbrio deixa de fazer.