O Estado de S. Paulo: Atentado é reflexo de cenário em ebulição, dizem analistas

Pesquisadores ouvidos pelo ‘Estado’ afirmam que ataque deve alterar estratégias da campanha eleitoral na reta final das eleições 2018.

Pesquisadores ouvidos pelo ‘Estado’ afirmam que ataque deve alterar estratégias da campanha eleitoral na reta final das eleições 2018

Adriana Ferraz, de O Estado de S.Paulo

O ataque sofrido pelo presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) na quinta-feira, 6, em Juiz de Fora (MG) é capaz de mudar os rumos da disputa eleitoral nas eleições 2018, já marcada pela imprevisibilidade, segundo especialistas ouvidos pelo Estado. Para eles, o episódio certamente deverá surtir impacto nas campanhas.

Conforme José Álvaro Moisés, cientista político da USP, o deputado deverá passar a ocupar, por motivos distintos, o mesmo posto de vítima do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Lava Jato. “Esse fato lamentável pode transformá-lo na segunda vítima dessa campanha, confundindo ainda mais o eleitorado e resultando em um impacto no resultado da eleição. As chances dele podem aumentar”, afirmou o cientista político.

Moisés ressaltou que o grau de tensão observado no cenário político nacional se intensificou nos últimos meses e já gerou outros episódios de violência. Ele citou o assassinato da vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL), há quase seis meses, e os tiros que atingiram um ônibus da caravana de Lula pelo Paraná, em março. “A reintrodução da violência na política não favorece a democracia, não permite que o clima seja de reorganização do País. Pelo contrário, gera mais confusão na população.”

Para Marco Antonio Teixeira, professor de ciência política da FGV-SP, o ataque deve fazer com que as campanhas reavaliem suas estratégias. “Isso deve ser veementemente repudiado. A hora é de serenidade e de se esperar os devidos esclarecimentos. Todos nós devemos refletir sobre esse lamentável episódio, e os candidatos devem cessar as agressões entre eles”, afirmou o analista.

Desde o início da campanha na TV e no rádio, Bolsonaro entrou na mira dos adversários, que passaram a destacar episódios polêmicos envolvendo o deputado federal – ele lidera as pesquisas de intenção de voto com 22%, de acordo com a mais recente pesquisa Ibope/Estado/TV Globo.

O presidenciável tucano, Geraldo Alckmin, por exemplo, tem utilizado metade de seu tempo de propaganda para sugerir que o deputado agride mulheres, com imagens dele destratando uma deputada e uma jornalista, e que ele quer resolver os problemas do País na bala.

Henrique Meirelles, candidato pelo MDB nas eleições 2018, também tem provocado Bolsonaro nas inserções a que tem direito de veicular no rádio e na TV. Mas, diferentemente da estratégia tucana, o emedebista tem atacado não o discurso do deputado, mas seu suposto desconhecimento sobre temas de economia. Com a agressão sofrida ontem por Bolsonaro durante ato de campanha em Juiz de Fora, a expectativa é que tanto Alckmin quanto Meirelles possam repensar suas ações.

Professor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Universidade Presbiteriana Mackenzie, Rodrigo Prando acredita que a repercussão do ataque deva modificar não apenas as estratégias de campanha dos adversários, mas especialmente o discurso do próprio Bolsonaro.

“Bolsonaro buscará capitalizar esse ataque e firmar sua imagem de vítima. Não há como negar o que ocorreu. Mas só saberemos realmente o quanto ele ganhou em intenções de votos e o nível de sua rejeição quando novas rodadas de pesquisa eleitoral forem divulgadas. Arrisco, contudo, em afirmar que haverá impacto positivo em sua imagem, e seus adversários que partiram para o ataque terão que rever a decisão, especialmente Alckmin”, disse. “O cenário eleitoral, que já estava em alta temperatura, entra em ebulição.”

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