Em seu único livro, Da Mata Atlântica ao Xingu, ele registra memórias que levantam debate sobre preservação do meio ambiente
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
No momento em que o Brasil registra crescimento de incêndio e desmatamento na Amazônia, no Pantanal e na Mata Atlântica, o único livro de Sergio Bacellar Vahia de Abreu, de 92 anos, mostra a importância de preservação ambiental para o desenvolvimento do país e manutenção da vida. A obra Da Mata Atlântica ao Xingu: um integrante da Marcha para o Oeste (2016, 354 páginas) passou a ser disponibilizada nesta quinta-feira (8) para download gratuito no acervo digital da Biblioteca Salomão Malina, mantida pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), em Brasília.
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O livro contempla uma longa sequência de memórias da vida aventureira do autor, desde meados do século passado, oferecendo aos leitores relato minucioso sobre aventuras em terra, ar e mar, por múltiplas regiões rurais e urbanas brasileiras e no exterior, como Caribe e a Flórida dos Estados Unidos. Organizada com 22 títulos internos, a obra é marcada pela linguagem coloquial, de fácil entendimento do público em geral, convidando cada leitor a mergulhar em cada uma das histórias.
De sua casa no Rio de Janeiro, onde nasceu, Sergio Vahia, como é conhecido, lamenta a destruição do meio ambiente e a inércia das autoridades brasileiras. “Tenho sofrido com essa destruição do meio ambiente”, destacou, em entrevista à reportagem da FAP. Segundo ele, os crimes ambientais persistem por causa da “impunidade”.
O aumento das temperaturas do planeta é outra preocupação do autor. “A chuva é decorrência das florestas. O desmatamento vem se agravando, gradativamente. Ando pelo Brasil Central, desde os meus 16 anos, e estou vendo tudo isso secar. Fazendeiro desmata tudo”, lamenta ele, ressaltando que o assunto do livro é bastante atual. “Não adianta querer superávit, emprego, construção de hidrelétrica, se não chover. O Brasil está secando estupidamente”. Alerta.
Marcha para o Oeste
No livro, Sergio Vahia lança luz sobre a importante Marcha para o Oeste, ocorrida nas décadas de 1940 a 1970, especificamente no Brasil Central. Ele conta que a FBC (Fundação Brasil Central), inicialmente “Expedição Roncador-Xingu”, de 1943, saindo de Aragarças (GO), chegou ao Rio das Mortes no fim daquele ano, na região em que hoje fica a cidade de Nova Xavantina (MT). “Terminou aí a penetração, função principal daquele órgão Federal. Foram só 150 km. Dali até Manaus, não existia nada. Um oco bem vazio”, relata.
Só em 1965, de acordo com o autor, com o advento da expedição Xavantina-Cachimbo (1965-1966), a penetração voltou a ocorrer rumo ao Norte, acrescentando cerca de 500 km de estrada de chão, hoje rodovia federal asfaltada. Sem dúvida, uma boa parte da Marcha para o Oeste. Depois, em meados da década de 1970, com a Sudeco (Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste), voltou-se a progredir com mais estradas continuando rumo ao Noroeste.
O livro também conta detalhes de expedições de Sergio Vahia na região do Rio Xingu. “Levamos 16 dias para fazer 125 km, do porto dos trumais até a foz com o Xingu, pouco acima da famosa cachoeira Von Martius, cujo ronco a gente já vinha escutando nos dois últimos dias. Ficava quase na divisa dos estados de Mato Grosso e Pará”, relata, em um trecho.
Em seguida, ele detalha a experiência de desbravar o Xingu rio acima. “Ligamos o motor e passamos a subir o Xinguzão”, afirma, para continuar: “Presumo que por ali tenha em média quase mil metros de largura em intrincado leito repleto de pequenas ilhas baixas e canais difíceis de se localizar para contorná-las e achar o leito, por onde tem que se passar. Com as águas bem baixas, são criadas extensas áreas rasas não navegáveis. Quem nos salvou foi o Tarepá, filho, neto e bisneto, da região”.
‘Dever social’
Um dos pioneiros da geografia brasileira, Pedro Geiger destacou a importância da obra de Sergio Vahia. “O autor entende o dever social de ligar a sua existência singular ao movimento geral de modo a fazer aparecer o conceito de ‘meio’ de forma implícita na sua narrativa. Ele entremeia a estória [sic] dos momentos vividos em real com informações sobre os ambientes históricos e geográficos de múltiplas regiões do imenso território brasileiro e do exterior, selvagens, rurais e urbanas”, disse Geiger, na apresentação do livro.
Geiger, que também é um dos autores do livro Jalapão: Ontem e hoje, lançado pela FAP em novembro de 2019, ressaltou a proposta do autor de o livro não ter caráter científico. “Sem maiores pretensões de uma contribuição científica, o leitor se depara com uma espécie de sobrevivente, contando as suas aventuras, desde um longínquo passado, com descrições e imagens de heróis do passado, de uma época anterior ao atual populismo, até o presente”, diz o geógrafo.
O destaque é a prática de ajuste do homem comum aos ambientes e populações que ele encontra, segundo Geiger, que ingressou no IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 1942, fez curso de especialização na França e foi professor visitante da Universidade do Texas, nos Estados Unidos.
Sem perder o bom humor e o gosto pela vida, Sergio Vahia diz não se arrepender de qualquer palavra que tenha usado no livro, que, segundo ele, retrata a sua própria essência. “Fui colocando só aquilo que me moldou. Não tiro uma vírgula de onde coloquei. É tudo sem maquiagem”, afirma.
Para acessar o livro Da Mata Atlântica ao Xingu, basta seguir os seguintes passos:
1 – Acesse o Terminal – Shophia Bliblioteca Web por meio do link https://biblioteca.sophia.com.br/terminal/7828
2 – Na caixa de pesquisa, digite Da Mata Atlântica ao Xingu. Clique em pesquisar. Em seguida, você visualizará a imagem da edição disponível.
3 – Após clicar na imagem, você acessará a página da publicação, contendo as informações sobre ela e o link disponível para download do arquivo no formato .PDF. Para acessar o conteúdo, clique no link disponível.
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