Um dia após ser denunciado à Justiça pelo Ministério Público Federal e ser apontado pela força-tarefa da Operação Lava Jato como o “comandante máximo do esquema de corrupção” no governo federal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou a imprensa para atacar os procuradores e dizer que “construíram uma mentira como um enredo de novela”. O #ProgramaDiferente acompanhou. Assista matéria especial. É mais um capítulo da “narrativa do golpe”, com Lula e seus coadjuvantes.
O petista afirmou que anda de “cabeça erguida” e que irá a pé para a prisão se alguém provar que ele é corrupto.“Conquistei o direito de andar de cabeça erguida neste país. Provem uma corrupção minha, que eu irei a pé para ser preso”, disse Lula em tom emotivo durante pronunciamento que durou mais de uma hora no auditório do segundo subsolo do Novotel Jaraguá, no centro de São Paulo.
“Eles construíram uma mentira, construíram uma inverdade, como se fosse um enredo de uma novela e está chegando o fim do prazo. Afinal de contas, já cassaram o Cunha, já elegeram o Temer pela via indireta, com o golpe, já cassaram a Dilma. Agora, precisa concluir a novela. Quem é o bandido e quem é o mocinho? Vamos agora dar o fecho, acabar com a vida política do Lula“, afirmou o próprio.
O Ministério Público Federal e a Justiça Federal do Paraná, que integram a força-tarefa da Operação Lava Jato, disseram que não comentariam as declarações de Lula. O ex-presidente foi denunciado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso que envolve um tríplex em Guarujá, no litoral de São Paulo. A ação chegou nesta quinta-feira, 15 de setembro, às mãos do juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância.
O pronunciamento de Lula foi marcado por lágrimas, num discurso emocional interrompido por gritos de “guerreiro do povo brasileiro”. Ele estava rodeado por militantes, líderes de movimentos sociais e centrais sindicais, além de parlamentares, políticos do PT e de partidos aliados. Sua mulher, Marisa Letícia, não participou do evento.
Ele começou sua fala com duras críticas à entrevista coletiva dada na véspera, quarta-feira, 14 de setembro, pela força-tarefa da Lava Jato. “Eu não vou fazer um show de pirotecnia, como fizeram ontem; não vou me comportar como ex-presidente da República; não quero me comportar como um cara perseguido, como se estivesse reivindicando algum favor”, disse.
“Minha declaração é de um cidadão indignado com as coisas que aconteceram e que estão acontecendo. Neste país, tem pouca gente com a vida mais pública, mais fiscalizada do que a minha”, afirmou.
O petista relembrou a sua trajetória política desde a época que era líder sindical até o momento atual, no qual declarou que, se quiserem derrotá-lo, que seja “nas ruas”. Contou que passou fome, que foi o primeiro de oito irmãos a conquistar um diploma e declarou que tem orgulho de ter criado “o mais importante partido de esquerda da América Latina”.
“Tenho consciência de que o meu fracasso teria agradado os meus adversários, o meu fracasso não teria despertado tanto ódio contra o PT. O que despertou essa ira foi o sucesso do nosso partido”, afirmou, ao defender que os petistas saiam às ruas de camisa vermelha, orgulhosos, assim como ele e o presidente nacional do PT, Rui Falcão, vestiam na entrevista.
Em tom indignado, Lula voltou a negar ser dono do tríplex em Guarujá e do sítio em Atibaia (SP). Segundo as investigações, os dois imóveis foram reformados para o uso de Lula e de sua família, por empreiteiras investigadas pela Lava Jato, com dinheiro desviado da Petrobras.
“Eu tenho a consciência tranquila. Mantenho o bom humor porque eu me conheço, sei de onde eu vim, sei para onde vou. Sei quem me ajudou a chegar onde cheguei. Sei quem quer que eu saia e quem quer que eu volte”, garantiu.
Emocionado, Lula chorou várias vezes: ao falar sobre a denúncia, sobre as buscas que a Polícia Federal fez em sua residência, nas casas de seus filhos e na sede do Instituto Lula em março deste ano, e ao mencionar o nome de sua mulher, que também foi denunciada pelo Ministério Público Federal.
Não faltaram declarações polêmicas e provocações, como ao se comparar a Jesus Cristo, ou ainda ao associar o caso da apreensão de um helicóptero com drogas aos adversários. Ele ironizou: “Viram cocaína: tinham provas, mas não tinham convicção”. Era uma referência nada sutil à declaração atribuída aos procuradores, como estratégia da defesa petista (mas não foi bem isso que eles disseram). Vamos acompanhar o desenrolar dos fatos.