Luiz Carlos Azedo | Nas entrelinhas | Correio Braziliense
A pesquisa Ipec (a turma do antigo Ibope), divulgada na segunda-feira, mostra um quadro estabilizado há duas semanas na disputa eleitoral entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro. O primeiro com 44% de intenções de voto; o segundo, com 32%. Ciro Gomes, Simone Tebet e Felipe D’Ávila subiram um ponto cada, estão com 7%, 3% e 1%, respectivamente, todos na margem de erro. A pesquisa funcionou como uma espécie de “calma, o Brasil é grande” na cúpula das campanhas de Lula e Bolsonaro, que foram muito mal avaliados nos trackings do debate de domingo na Band e no monitoramento das redes sociais. Os demais candidatos se saíram melhor, principalmente Simone Tebet (MDB).
Vista com lupa, a nova pesquisa mostra que houve pequenas movimentações localizadas. Por exemplo, Lula continua liderando entre os que recebem o Auxílio Brasil, com 52%, mas Bolsonaro subiu um pontinho: passou a 29%. Ciro Gomes, também, chegando a 8%. Entre os que não recebem o auxílio, não houver alteração, mas a distância de Lula para Bolsonaro é menor: o petista tem 40%, e o presidente, 33%. Entretanto, nas capitais, houve uma mudança muito significativa: a vantagem de Lula para Bolsonaro caiu para 2%, ou seja, estão em empate técnico. Há duas semanas, Lula estava com 45%, e Bolsonaro, com 31%. No interior, Lula cresceu um 1%, e Bolsonaro caiu o mesmo percentual: estão como 45% e 32%, respectivamente. O que é isso?
Eis uma boa pergunta para os estrategistas da campanha de Lula, porque esse é um movimento de placas tectônicas. Existe vida inteligente na campanha de Bolsonaro, cujo estado-maior procura explorar os pontos fracos de Lula e recuperar os votos de 2018 que o presidente da República havia perdido. Isso está muito claro nos programas eleitorais e nas intervenções bolsonaristas nas redes sociais. O problema da campanha de Bolsonaro não é falta de estratégia, é o próprio candidato. Isso ficou claro no debate da Band, ao atacar a jornalista Vera Magalhães (TV Cultura). Tornou-se o grande derrotado, exatamente no momento em que crescia para cima de Lula.
A apatia de Lula no debate da Band foi flagrante, mas não provocou mais do que uma tempestade em copo d’água, se considerarmos a pesquisa divulgada na segunda, em contradição com repercussão negativa registrada nas redes sociais por sua atuação no domingo. Lula continua dando uma surra em Bolsonaro no Nordeste (57% a 25%), vence no Sudeste por uma margem de seis pontos (39% a 33%) e, mudança importante, inverteu a situação no Sul: agora está com 36%, contra 34% de Bolsonaro. Porém, Lula caiu 6% entre os eleitores que recebem até um salário mínimo, e Bolsonaro cresceu 2%. Entre os eleitores com renda acima de cinco salários mínimos, Lula caiu oito pontos, está com 28%, contra 47% de Bolsonaro, que subiu um ponto.
Triângulo
Bolsonaro trabalha para reduzir sua rejeição e aumentar a de Lula. É uma estratégia eficiente, para levar a eleição ao segundo turno e, nele, tentar virar o jogo e se reeleger. A resposta de Lula, num primeiro momento, foi tentar ampliar sua candidatura para vencer no primeiro turno. Essa possibilidade ainda existe, segundo a pesquisa Ipec, porque Lula tem 1% a mais do que a soma das intenções de votos de Bolsonaro com as dos demais candidatos. No entanto, as placas tectônicas sinalizam que essa possibilidade pode ser volatilizada.
O recorte regional da campanha sinaliza que a eleição será decidida no Sudeste, o chamado Triângulo das Bermudas. Lula (PT) oscilou três pontos para baixo em São Paulo – de 43% para 40% -, e três para cima em Minas Gerais – de 42% para 45%. No Rio de Janeiro, todos os candidatos oscilaram dentro da margem de erro. Lula tem 39% (tinha 41%), Bolsonaro 36% (tinha 37%), Ciro 6% (tinha 7%) e Tebet 3% (tinha 2%).
Lula teceu alianças minoritárias no Rio de Janeiro e em Minas. O atual governador fluminense, Cláudio Castro (PL), com 26% das intenções de voto, apoia Bolsonaro. Aliado de Lula, Marcelo Freixo (PSB) tem 19%. Depois, vêm Rodrigo Neves (PDT), com 6%, e Cyro Garcia (PSTU), com 4%. Juliete Pantoja (UP) tem 3%. Eduardo Serra (PCB), Wilson Witzel (PMB) e Paulo Ganime (Novo) empatam com 2%. O candidato Luiz Eugênio (PCO) somou um ponto percentual.
Em Minas, o amplo favoritismo de Lula não alavancou até agora a candidatura de Alexandre Kalil (PSD), com 24%, que enfrenta o governador Romeu Zema (Novo), franco favorito, com 44%. Carlos Viana (PL), com 3%; Cabo Tristão (PMB), com 1%; Lorene Figueiredo (PSol), com 1%; Marcus Pestana (PSDB), com 1%; Renata Regina (PCB), com 1%; e Vanessa Portugal (PSTU), com 1%.
Em São Paulo, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) lidera com 32% das intenções de voto, mas o candidato de Bolsonaro, o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas, está com 17%, enquanto o atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB), tem 10%. Depois aparece Carol Vigliar (UP), com 2%. Elvis Cezar (PDT), Vinicius Poit (Novo), Gabriel Colombo (PCB), Antonio Jorge (DC) e Altino Junior (PSTU) empatam com 1%.