Henrique Meirelles acha que o BC tem espaço para vender reservas, diz que São Paulo cresce o dobro da média nacional e gerou 40% das vagas
São Paulo está crescendo num ritmo que é o dobro da taxa brasileira e criou 40% dos empregos formais do ano passado, segundo o secretário de Fazenda do estado, Henrique Meirelles. Quando foi presidente do Banco Central no governo Lula, Meirelles iniciou a política de acumulação de reservas cambiais. O BC atual está vendendo reservas. Para Meirelles, isso é normal e não representa risco nem mesmo num contexto de volta do déficit em transações correntes. Sobre a reforma tributária, ele acha que o melhor caminho seria o do substitutivo apresentado pelos estados aos dois projetos no Congresso, mas lamenta a falta de definição do governo federal.
Meirelles disse que a projeção para o crescimento fechado do ano passado é de 2,6% no estado e em 2020 será entre 3% e 3,5%:
— Imagina 2019 se o Brasil tivesse crescido à taxa de São Paulo. Agora, tire São Paulo da taxa nacional e o país teria crescido só 0,3%, por aí.
Segundo ele, os setores de serviços, comércio e indústria estão crescendo forte, principalmente os mais intensivos em mão de obra como construção civil.
— Nos serviços, em 12 meses até novembro, o país teve 0,9% e São Paulo teve 3,2%. A indústria caiu 1,1% no país, enquanto em São Paulo cresceu 0,3% — disse.
Perguntei para ele que opinião tem sobre a venda das reservas cambiais no ano passado. O Banco Central chegou a vender US$ 36 bilhões no segundo semestre. Ele havia acumulado no começo do ano, portanto a queda foi de US$ 18 bilhões. Segundo dados que confirmei com o governo, isso permitiu a redução da dívida pública em quase um ponto percentual. Portanto foi um bom negócio. A questão é se é arriscado diminuir o nível desse seguro contra a instabilidade internacional.
Meirelles acha que não, e que há margem até para reduzir mais.
— Acho que o nível ideal de reservas do Brasil está em torno de US$ 300 bilhões. Minha experiência empírica dentro e fora do governo.
Hoje o país tem US$ 356 bilhões, portanto, por essas contas poderia vender mais. Ao se tornar presidente do Banco Central, no começo do governo Lula, Meirelles encontrou uma situação totalmente diferente:
— Quando assumi, o BC vendia diariamente US$ 50 milhões ao mercado, era a chamada “ração”. O Brasil tinha US$ 38 bilhões, mas foi caindo até atingir US$ 15 bi. Chegamos a ter 40% da nossa dívida pública denominada em dólares. Tínhamos papéis indexados ao dólar. Então nós éramos devedores líquidos.
O governo passou a uma política deliberada de acumulação de reservas, aproveitando o boom das commodities, e o resultado foi que em 2008 tinha US$ 200 bilhões:
— Com isso superamos a crise de 2008.
Ele acha que a crise cambial que a Argentina enfrenta prova que o Brasil estava certo. Quanto à venda agora, ele acha normal:
— Não tem maiores problemas, mas tem que ir com moderação porque isso tem limite. O grande problema de ter muita reserva é o custo fiscal, porque de uma lado tem a operação compromissada, de outro, as reservas. Quando os juros estão altos, o custo disso é enorme. Quando assumi o BC, a taxa real era de 14%. O CDI estava em 33% e a Selic chegou a 26,5%. Mas agora houve uma queda dramática dos juros. Mas o custo de reduzir muito esse seguro qual é? De haver uma instabilidade e o país parecer sem o nível certo de reservas. Isso depende da história de cada país.
Apesar de os juros estarem baixos, o ex-ministro, hoje secretário, disse que se os modelos do Banco Central indicarem queda da inflação, a Selic pode até ser reduzida novamente. Ele disse que aprendeu a levar a sério os modelos do BC.
Meirelles espera que a reforma tributária evolua este ano e disse que houve um avanço importante quando os 27 estados chegaram num acordo, pela primeira vez em 30 anos, e apresentaram uma proposta conjunta:
— O projeto dos estados foi apresentado como substitutivo tanto à emenda 45 que está na Câmara quanto à emenda 110 que está no Senado e em acordo com os presidentes Maia e Alcolumbre. A ideia é ter uma alíquota única para todos os produtos em cada estado. E cada estado tem uma margem para subir ou descer a alíquota e tem um comitê gestor com estados, municípios e governo federal. A reforma do ICMS e do ISS é muito importante. E podia andar em paralelo com a reforma do governo federal. O problema é que estávamos conversando com o Marcos Cintra. Ele caiu e eles ainda estão formulando o que fazer.