Míriam Leitão: Tabela maluca

O governo se atrapalhou ao divulgar a tabela que define o custo mínimo do frete rodoviário no país. A ANTT fará novos cálculos porque há absurdos assim: transportar carga perigosa ou refrigerada está mais barato do que levar cargas a granel. “Do jeito que está, é melhor transportar aço em um caminhão refrigerado. Ficará mais barato”, se espanta Maurício Lima, diretor-geral do Instituto Ilos de Logística. A tabela custará R$ 80 bilhões.
FOTO: THIAGO GOMES / AG. PARÁ
FOTO: THIAGO GOMES / AG. PARÁ

O governo se atrapalhou ao divulgar a tabela que define o custo mínimo do frete rodoviário no país. A ANTT fará novos cálculos porque há absurdos assim: transportar carga perigosa ou refrigerada está mais barato do que levar cargas a granel. “Do jeito que está, é melhor transportar aço em um caminhão refrigerado. Ficará mais barato”, se espanta Maurício Lima, diretor-geral do Instituto Ilos de Logística. A tabela custará R$ 80 bilhões.

Desde a divulgação da Medida Provisória, no último dia 30, as empresas contratantes estão fazendo e refazendo contas para saber o quanto pagarão a mais pelo transporte. Segundo Lima, o tabelamento torna o frete impraticável para vários setores e representa um forte aumento no custo logístico do país.

— Alguns setores estão com aumento de 50%, o que inviabiliza o frete. O pior é que a tabela já está valendo, porque foi feita via Medida Provisória. Os caminhoneiros estão com ela nas mãos e os contratantes não sabem o que fazer. O custo rodoviário subirá R$ 80 bilhões — explicou.

A situação é tão estranha, diz Lima, que até as ações das empresas de transporte, que deveriam se beneficiar com a medida, estão em queda na bolsa. Isso porque elas também terão aumento de gastos ao terceirizar o serviço com a contratação de motoristas autônomos. Além disso, há o risco jurídico.

A ANTT disse que fará mudanças na tabela, mas os caminhoneiros estão ameaçando uma nova paralisação se ela cair. O governo terá que optar entre correr o risco de uma nova greve ou impor um forte aumento de custos que tornará a economia brasileira ainda menos competitiva.

Não é comigo
O presidente da Anfavea, Antonio Megale, que representa as montadoras de veículos, negou a tese de que a venda subsidiada de caminhões no governo Dilma seja uma das causas para a paralisação dos caminhoneiros. “Este ano, as vendas de caminhões estão em alta de 52% de janeiro a maio. Se houvesse excesso de oferta, isso não aconteceria”, afirmou. No auge do PSI, que incentivou o setor, a venda de caminhões chegou a 68 mil unidades, de janeiro a maio de 2011. Este ano, foi a 26 mil. Ele é contra subsídio ao diesel.

Andar para trás
Na primeira semana após o fim da greve, o economista-chefe para América Latina do banco BNP Paribas, Marcelo Carvalho, avalia que os impactos sobre o PIB serão limitados. O problema, diz, é que o governo ficou mais vulnerável às pautas setoriais, com riscos de aumento de gastos. “O governo tem menos força para resistir. Isso é mais preocupante do que a parada na economia por uma semana. Podemos ter mais interferência nas estatais, houve tabelamento de frete, a privatização da Eletrobras ficou mais difícil. O receio é como isso vai afetar a confiança dos consumidores e dos empresários”, explicou.

Gás da indústria
O consumo industrial de gás subiu 3,2% em abril, segundo levantamento inédito da Abegás. No acumulado do ano, o aumento é de 5,8%. Poderia ser melhor, se não houvesse monopólio da Petrobras. “O país precisa aumentar o número de ofertantes de gás natural, cuja comercialização é feita hoje exclusivamente pela Petrobras”, afirma o presidente executivo da Abegás, Augusto Salomon.

DESCONFIANÇA
Os juros com vencimento em 2021 foram a 9,39%, o maior patamar desde novembro de 2017, segundo Pablo Spyer, da corretora Mirae Asset.

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