Míriam Leitão: O maior desafio na economia

Equipe econômica terá que lidar com o desafio da lenta recuperação do emprego, sempre o último indicador a sair das crises.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Equipe econômica terá que lidar com o desafio da lenta recuperação do emprego, sempre o último indicador a sair das crises

O superministério que será chefiado pelo ministro Paulo Guedes terá vários desafios a partir de 1º de janeiro. Para nenhum deles haverá resposta fácil, mas o pior será o drama do desemprego. O mercado de trabalho é sempre o último a reagir aos ciclos econômicos e mesmo no melhor cenário o efeito sobre a criação de vagas será limitado. Paulo Guedes terá que administrar essa cobrança, ao mesmo tempo em que tenta implementar medidas duras para apagar o incêndio que consome as finanças públicas.

O mercado de trabalho formal em novembro abriu 58 mil vagas, o melhor resultado para este mês desde 2010. A questão é que entre 2015 e 2017 o país fechou 259 mil postos em meses de novembro. Ou seja, o saldo é negativo de 201 mil. O ritmo de melhora é lento e isso ajuda a entender por que os brasileiros ainda sentem os efeitos da recessão. Em qualquer indicador que se faça a conta, a história será parecida. Há uma melhora na ponta, mas que não recupera a perda que se acumulou nos anos recessivos.

Mesmo nos cenários mais otimistas para o PIB, os economistas admitem que o desemprego permanecerá elevado. O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco soltou relatório há poucos dias prevendo “aceleração disseminada entre os setores no próximo ano”. O tom do banco é otimista em todo o relatório. Acha que, com exceção dos gastos do governo, todos os demais componentes do PIB ficarão no azul, com destaque para o investimento, que deve crescer 6,5%. Na média, a economia fecharia 2019 com alta de 2,8% do PIB. Sobre o mercado de trabalho, no entanto, o banco fala em “queda apenas gradual da taxa de desemprego”.

A estimativa do Bradesco é de redução do desemprego de 12,3%, da média de 2018, para 11,9%, em 2019. O Itaú projeta que cairá para 11,6%, e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) tem um número mais otimista, de 11,4%. Em todos os três cenários, a taxa permanece na casa de dois dígitos.

O consultor econômico da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), Nicolas Tingas, concorda que os efeitos sobre o mercado de trabalho serão limitados, mesmo que o seu cenário se confirme, de crescimento entre 2,5% e 3% do PIB no ano que vem. Mas ele pondera que a sensação das famílias será de melhora, com aumento gradual da confiança.

— Um dos principais motores do PIB será o crédito às famílias, que deve crescer de 10% a 12% nos recursos livres. Mesmo que o desemprego não caia tão rapidamente, o país deixa definitivamente para trás o risco de recessão —explicou.

Tingas tem uma visão diferente da maior parte dos economistas de mercado. Ele não acredita que a aprovação da reforma da Previdência no primeiro semestre seja crucial para o sucesso da economia em 2019. Enxerga na nova equipe econômica um perfil de administração que veio do mercado de capitais, com uma preocupação grande de reequilibrar o fluxo de caixa. Ou seja, pode encontrar novas formas de melhorar as finanças públicas no curto prazo, e com isso ganhar mais tempo para reformar a Previdência.

— Essa equipe vai buscar maneiras de reduzir gastos e aumentar a arrecadação. Então a aprovação da Previdência não é o ponto principal no meu cenário. Muita coisa pode ser feita: abertura comercial, reforma tributária, medidas que vão aumentar a competitividade e gerar receita. Se der certo, o governo ganha tempo e mantém a confiança dos credores —diz.

Outros economistas, no entanto, acham que a reforma da Previdência passou a ter também um valor simbólico. Aprová-la seria fundamental para que as planilhas de projeções do crescimento da dívida pública sejam refeitas. Isso seria o primeiro ponto para a retomada da confiança.

Seja como for, permanece a velha regra de que o emprego é o último indicador a piorar na entrada de uma recessão, e o último a melhorar na saída da crise. Oficialmente o país já está fora da recessão, mas o desemprego continua alto e, nos primeiros meses do ano, essa taxa sempre sobe. Com o fim do antigo Ministério do Trabalho e a absorção de grande parte de suas funções pelo Ministério da Economia, quem responderá pelo assunto, dando explicações e projeções, será a equipe econômica. Neste assunto as boas notícias vão chegar lentamente.

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