Por Alvaro Gribel (A colunista está de férias)
A indústria de São Paulo iniciou o mês de fevereiro sofrendo um duro golpe: aumento médio de 36% na conta de gás. Sob qualquer ponto de vista, essa alta seria desestabilizadora, mas ela ainda acontece após um reajuste de 21% em maio. Ou seja, em menos de um ano, a conta disparou 64%. O secretário de Fazenda de São Paulo, Henrique Meirelles, não quis comentar o assunto, e a agência reguladora Arsesp, não deu detalhes suficientes para explicar o aumento. Mas os grandes consumidores apontam o monopólio da Petrobras no setor de gás e a falta de transparência nos contratos como os principais motivos. No final de 2018, a petrolífera renovou um contrato de venda para a Comgás, distribuidora no estado de São Paulo, mas os detalhes não vieram a público. “A gente esperava um aumento em torno de 18%, mas 36% é o dobro. A Comgás, no fundo, é repassadora de preços da Petrobras. Algo foi estabelecido entre elas que provocou a alta, mas não temos como saber o que é”, explicou Adrianno Lorenzon, coordenador da equipe técnica de gás da Abrace, associação que representa os grandes consumidores de energia.
GNV dispara 40% em São Paulo
Quem usa o Gás Natural Veicular (GNV) em São Paulo vai sentir ainda mais. O reajuste autorizado chegou a impressionantes 40%. Para as residências, oscilou entre 8% e 11% e no comércio, 15%. A avaliação da Abividro é de que há um total descompasso entre as agendas de regulação, de direito da concorrência, e o prometido aumento da competitividade na economia. “É uma pancada abusiva. Um aumento imprevisto dessa magnitude mexe com o planejamento de qualquer empresa e pode comprometer o ano. No primeiro plano de governo do então candidato Bolsonaro só se falava em gás. Depois, isso saiu da pauta, e desde o início do governo outros temas no setor ganharam mais importância, como a energia nuclear”, afirmou Lucien Belmonte, diretor da Abividro.
Risco na recuperação
A indústria cresceu apenas 0,2% em dezembro, como mostrou ontem o IBGE, com crescimento no ano de 1,1%. O setor precisa de redução de custos para aumentar a competitividade e lidar com um ambiente econômico que ainda não engrenou. Os investimentos seguem travados e o emprego se recupera lentamente. O resultado é que a produção ainda está 16% abaixo do pico, de maio de 2011, e a balança comercial da indústria viu o déficit disparar de US$ 3,2 bilhões em 2017 para US$ 25,1 bi em 2018, segundo o Iedi. A perda de dinamismo se agrava com o reajuste dessa magnitude no gás. “A tendência é que a indústria mais dependente do gás corte investimentos e repasse custos. A conta deve sobrar para o consumidor”, prevê Eduardo Velho, da consultoria GO Associados.
E o vento levou
A energia eólica, enquanto isso, continua se expandindo. No ano passado a capacidade instalada ultrapassou a de Itaipu. Os aerogeradores já são capazes de produzir 14,71 GW. Na composição da matriz elétrica, a energia dos ventos corresponde a 9%. Já ultrapassou a geração a gás natural e deve conquistar em breve o segundo lugar, só ficando atrás das hidrelétricas. As informações são da ABEEólica.
Temperatura elevada I
A primeira sessão do ano no novo Senado teve de tudo: bate-boca, ameaça de agressão e até a pasta com a ata das votações sendo “confiscada” pela senadora Kátia Abreu (DEM-GO). A temperatura elevada mostra que o governo Bolsonaro não terá vida fácil para conduzir a agenda de reformas no Congresso. Segundo comentário da XP Investimentos, há receio de que por trás da confusão para a eleição na Casa esteja a atuação nos bastidores do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni: “A única certeza é que não há certeza”, disse a XP em alerta a clientes sobre o desfecho dessa primeira sessão.
Temperatura elevada II
Além dos sinais de que algo falhou na negociação de bastidores, o que preocupa é o ambiente pouco propício ao diálogo no Congresso, especialmente para temas controversos, conta um especialista em Previdência. Em um Senado renovado, também chamou a atenção que os parlamentares mais antigos é que não conseguiram conduzir os debates.
(Com Marcelo Loureiro)