Romeu Zema, do Novo, enfrentará um rombo ainda maior: Minas tem atraso de salários e de repasse para municípios, a Cemig antecipou impostos
O Partido Novo fará um batismo de fogo como administrador público. O governador eleito de Minas, Romeu Zema, vai assumir com um déficit maior do que o até agora divulgado. Além da dívida com o governo federal, dos atrasos de salários, o estado deve R$ 10 bilhões de repasses aos municípios, já sacou depósitos judiciais, a Cemig antecipou pagamento de imposto. “Estamos levantando todos os artifícios para que no dia primeiro de janeiro tenhamos condição de apresentar para o mineiro a real situação do estado”, diz Zema.
O governo Fernando Pimentel não quis negociar a entrada no Regime de Recuperação Fiscal e conseguiu liminar no Supremo para não pagar as parcelas da dívida. Assim, ele tem o bônus de suspensão do pagamento das parcelas mensais ao Tesouro, mas não teve que se submeter ao ajuste fiscal que faz parte do programa. Isso fez com que a situação se agravasse, principalmente por esses artifícios contábeis. Mesmo assim, o empresário Romeu Zema se diz animado.
— Estou animado. Eu digo que só para a morte não tem jeito. Minas tem um potencial muito grande, da mesma forma que o Brasil, e eu vejo que este atual governo errou muito. Então dá para reverter muita coisa que ficou a desejar nesses quatro anos, e é o que eu vou fazer com uma equipe muito boa — disse Zema.
Ele divulgou na quinta-feira que o ex-secretário do Rio Gustavo Barbosa será o secretário de Fazenda, que conhece já os caminhos para a entrada no Regime de Recuperação Fiscal. A dificuldade, contou Zema, é conhecer os dados reais. Ele afirma que a transição não está sendo tranquila, porque sua equipe não tem tido acesso aos documentos necessários. Isso é o oposto do que ocorre em outros estados. Recentemente, ouvi tanto de Wilson Witzel, governador eleito do Rio, quanto de Eduardo Leite, governador eleito do Rio Grande do Sul, que a transição está ocorrendo de forma tranquila.
Eu perguntei, nesta entrevista feita com o governador eleito de Minas para a Globonews, se ele está disposto a entregar a Cemig para a privatização, caso seja esse o pedido do Tesouro para a entrada do estado na recuperação fiscal. Do jeito mineiro, ele afirma, mas nega:
— Com toda certeza, sim, mas vale lembrar que a Cemig está subavaliada. Está com gestão longe de ser adequada. Perdeu 70% do valor dela por ingerências políticas, e eu gostaria de recuperar o valor dela, com outra gestão, para ela ser privatizada no momento oportuno.
Zema desistiu de unir as secretarias de agricultura e meio ambiente. Houve manifestações de contrariedades dos dois lados, e por bons motivos. Na Secretaria de Meio Ambiente, 85% dos processos são de outras áreas, como indústria e, principalmente, mineração. A Agricultura responde por um terço do PIB do estado e, por isso, precisa de uma atenção especial. Ponderei esses dois pontos, e Zema respondeu:
— Você está totalmente correta, o plano na campanha era juntar. Mas nestas duas semanas discutimos exaustivamente e é possível que tenha segregação porque cada uma tem seu trabalho. E depois do desastre de Mariana a Secretaria de Meio Ambiente se tornou mais eficiente e as pessoas de indicações políticas saíram.
Ele acha que a Samarco tem que voltar a operar, mas quer que as seguradoras monitorem os riscos das barragens.
Outro trabalho difícil será na educação, onde Minas já foi exemplo e agora está estagnada há dois Idebs. Ele diz que as escolas do fundamental que ainda são do estado devem deixar de ser, para que o foco seja no ensino médio. Não defende que os professores sejam fiscalizados e filmados pelos alunos, mas quer que as escolas mineiras priorizem o ensino de matemática e português. Diz que não é a favor de “caça às bruxas”.
Zema é de Araxá, sede da maior empresa de nióbio do país, a CBMM, mesmo assim ele não compartilha do entusiasmo que o presidente eleito manifesta sobre o nióbio:
— Ele tem características especiais, que tornam qualquer liga mais leve e mais resistente, mas existem metais nobres que são concorrentes do nióbio. Se acharmos que o Brasil tem a maior mina do mundo, pode aparecer um substituto que torne o nosso produto sem valor.
Encontrei o governador de Minas em São Paulo porque ele tem feito sucessivos encontros com empresários tentando atrair investimento para o estado. Perguntei em que área, ele disse que quer qualquer empresa que crie empregos.