Míriam Leitão: Mudanças de cenário

O Banco Central deve manter a taxa de juros na reunião desta semana, mas espera-se alguma indicação sobre o futuro da relação entre o câmbio e a política monetária. Na reunião em que os juros caíram para 6,5%, o dólar estava cotado a R$ 3,29. De lá para cá, houve a greve do transporte de carga que pressionou os preços. A incerteza internacional também subiu. Tudo está em alteração na economia.
Foto: Banco Central
Foto: Banco Central

O Banco Central deve manter a taxa de juros na reunião desta semana, mas espera-se alguma indicação sobre o futuro da relação entre o câmbio e a política monetária. Na reunião em que os juros caíram para 6,5%, o dólar estava cotado a R$ 3,29. De lá para cá, houve a greve do transporte de carga que pressionou os preços. A incerteza internacional também subiu. Tudo está em alteração na economia.

Desde que os juros caíram para 6,5% em 21 de março, o dólar já subiu 13,9%. No dia 21 de maio, quando teve início a greve, o mercado financeiro ainda esperava crescimento de 2,46% para o PIB de 2018, de acordo com a pesquisa feita semanalmente pelo Banco Central junto a bancos e consultorias. Ontem, o número já havia caído para 1,76%. Alguns economistas sustentavam, quando começou a paralisação, que os efeitos seriam pontuais e reversíveis.

Quem subestimou esse impacto já teve tempo de rever suas previsões. Primeiro porque aumentou a fragilidade fiscal do governo com as concessões feitas ao setor e as contas de 2019 ficaram ainda mais nebulosas. Depois porque os choques secundários permanecem na economia provocados pela novela do frete, que tem gerado um desdobramento por dia. A circulação de mercadorias não voltou completamente à normalidade e certos preços ainda não recuaram ao patamar anterior, o que tem provocado a retração do consumo.

Com isso, as projeções para o crescimento do PIB têm desabado. Normalmente, a mediana das projeções cai devagar. Desta vez em duas semanas mudou completamente a previsão do ano. Nem tudo é efeito da greve, nesse meio tempo, o IBGE também divulgou o PIB do primeiro trimestre, com um crescimento de apenas 0,4% sobre o quatro trimestre de 2017. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior houve forte desaceleração, de 2,1% para 1,2%. Os números já mostravam que a economia havia perdido fôlego nos três primeiros meses do ano.

A sondagem dos investimentos feita pela FGV apontou uma forte queda de 7,6 pontos no segundo trimestre, em relação ao primeiro. A confiança dos empresários e dos consumidores também caiu pelo segundo mês seguido, no último indicador divulgado pela FGV, de maio, e deve continuar em queda. Os índices de confiança do mercado financeiro, ou seja, dólar, bolsa, juros futuros, também apontaram para essa direção. O risco-país, medido pelo CDS de cinco anos, subiu de 141 pontos, na mínima do ano em janeiro, para 269 pontos, na máxima, atingida ontem.

Algumas instituições do mercado financeiro chegaram a apontar a possibilidade de os juros subirem, porém o grupo que prevê isso é minoritário. De todo modo, há uma expectativa em torno do que será o comunicado do Banco Central para o futuro da política monetária.

Esta semana sai a prévia da inflação de junho, e a previsão é que o IPCA-15 deve ficar em torno de 1%. Os índices de junho vão captar inteiramente a inflação provocada pela greve, mas certamente o patamar voltará a cair nos meses seguintes. Esse choque pegou a economia com a inflação bem abaixo do centro da meta, portanto não é isso que preocupa, e sim o fato de que a partir dos últimos eventos — a greve, a volatilidade do dólar, o impasse da tabela de fretes — houve uma redução da confiança de empresários e consumidores e a economia se enfraqueceu novamente quando estava no caminho de uma recuperação, ainda que lenta.

O início do processo de barreiras tarifárias impostas pelos Estados Unidos às importações de produtos chineses tem efeitos imprevisíveis, mas certamente não serão bons para a economia mundial. Até porque o governo Trump tem também espalhado conflito entre outros parceiros. Os Estados Unidos exportam mais para o Canadá do que para a China. E também impuseram tarifas sobre alguns produtos canadenses. Para piorar, o presidente Trump reagiu de forma grosseira à declaração do primeiro-ministro Justin Trudeau de que pode retaliar. A perspectiva de uma guerra comercial, ou uma série de conflitos entre a maior economia do mundo e seus principais parceiros comerciais não é boa. Quando o comércio mundial se retrai, por elevação do protecionismo, o ritmo de crescimento econômico global também diminui. E isso afeta todos os países, ainda que pontualmente possa haver ganho para um ou outro país.

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