Ainda há um longo caminho na recuperação do emprego. A notícia de que em dezembro houve uma queda de 307 mil vagas era esperada porque é normalmente negativo o número do último mês do ano. Era prevista também a melhora anual, em relação a 2018. Foi, porém, uma pequena aceleração perto do muito que é necessário. O presidente Bolsonaro, quando disse em novembro que o total dos empregos formais criados chegaria a 1 milhão, demonstrou desconhecer o que acontece todo dezembro, mês de queda no Caged. O resultado no ano ficou em 644 mil vagas formais, 115 mil a mais do que em 2018.
É uma melhora passo a passo, lenta demais em relação ao necessário. O país ainda tem 1,7 milhão de vagas formais a menos do que tinha em 2014, antes de a economia cair na crise provocada pela desastrada condução da política econômica do governo Dilma. Se o ritmo de 2019 for mantido, somente em 2022 tudo será recuperado. Felizmente, a expectativa é de um crescimento maior do PIB este ano, o que deve se refletir também em um aumento das contratações.
Como se pode ver no gráfico, o país terminou o ano de 2015 com destruição de 1,5 milhão de empregos com carteira assinada. Em 2016, foram perdidos mais 1,3 milhão. Em 2017, ficou na linha d’água, e a queda foi reduzida para 20 mil. O grande ponto de inflexão ocorreu em 2018, quando o país saiu do negativo e criou 529 mil empregos formais. Agora, foram esses 644 mil. É um bom resultado, é o melhor em seis anos. Mas que seis anos! Esse avanço era natural e ainda é insuficiente.
Há, no entanto, boas notícias. Houve criação de empregos em todas as cinco regiões do país e em todos os 26 estados e no Distrito Federal. A construção civil teve um forte aumento de vagas, de 17 mil para 71 mil, confirmando que o setor, de fato, está se recuperando, depois de muitos anos de contração. A indústria de transformação também conseguiu contratar mais, de 2 mil para 18 mil, apesar de ter vivido um ano de 2019 com altos e baixos em termos de crescimento. O comércio acelerou de 102 mil para 145 mil. Os serviços, por sua vez, contrataram menos que em 2018.
Os efeitos da reforma trabalhista aprovada em 2017 estão mais visíveis. Foram 85 mil empregos intermitentes criados, quando o trabalhador é convocado pelo empregador sem uma carga horária definida. E mais 20 mil vagas em tempo parcial. Em ambos os casos, a jornada de trabalho é inferior ao tempo de 40 horas semanais de um regime convencional de carteira assinada. E isso significa que a remuneração também será menor. Há o lado positivo de se criar mais vagas, mas também o lado negativo de ser um emprego formal com menor qualidade.
Para acelerar o ritmo de contratações o país precisa crescer mais. Pelas contas do Itaú Unibanco, a geração de empregos formais em 2020 chegará a 881 mil, se o crescimento do PIB for 2,2%. A consultoria LCA revisou para cima a sua estimativa, de 802 mil para 850 mil. Em 2021, o número pode chegar a 1 milhão, caso a economia acelere para 3%, pelas contas do Itaú. Ainda assim, a taxa de desemprego deve cair lentamente, explica o banco. Ao mesmo tempo em que aumentarão os empregos formais, cairão os informais. É por isso que a estimava é de que a economia vai conviver com taxas de desemprego de dois dígitos pelo menos até 2021. É importante lembrar que todo ano a força de trabalho cresce em um milhão de pessoas, com os jovens que chegam ao mercado de trabalho. Para o desemprego cair, é preciso superar essa linha.
A melhora do emprego formal pode fazer com que a economia entre em um círculo virtuoso. Com a estabilidade do emprego e a carteira assinada, haverá maior acesso ao crédito e crescimento da renda. As famílias poderão se aproveitar dos juros mais baixos no sistema financeiro. Principalmente as vendas de bens duráveis, de maior valor, podem ser beneficiadas, o que favorece também a indústria e os investimentos.