Míriam Leitão: Bolsonaro e o vazio de ideias

Campanha de Bolsonaro é um vazio de ideias nas mais variadas áreas: economia, educação e até mesmo segurança pública.
Foto: Agência Câmara
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Campanha de Bolsonaro é um vazio de ideias nas mais variadas áreas: economia, educação e até mesmo segurança pública

O candidato que está na frente das pesquisas de intenção de votos é justamente aquele do qual menos se sabe, quando o assunto é projeto para a economia. Ontem já houve confusão. Paulo Guedes falou em criação de uma espécie de CPMF, Bolsonaro negou, e o economista explicou que o imposto poderia ser criado em substituição a outros, diminuindo a carga. Ninguém sabe qual é a proposta econômica de Bolsonaro, porque ele nada entende do assunto, e as ideias propostas por Guedes ou não têm relação com o conjunto de crenças do candidato ou são inviáveis.

A leitura do programa divulgado pela candidatura e as entrevistas do candidato e do seu economista em chefe, Paulo Guedes, não ajudaram muito a esclarecer o que seria o projeto de Bolsonaro. Guedes teria falado num encontro fechado em suspender toda a contribuição patronal para a Previdência e mudar para o regime de capitalização. Isso seria financiado pela volta da CPMF. Ontem, explicou que não seria um imposto a mais, mas uma espécie de imposto único que substituiria vários outros impostos federais. É preciso apresentar alguma conta para saber do que se está falando. A Previdência já tem um déficit de quase R$ 300 bilhões por ano, a saída para a capitalização teria um custo astronômico. Um imposto novo não cobriria essas duas fontes de desequilíbrio: isenção total às empresas e o custo de transição para um novo regime. E além disso haveria outras reduções de impostos.

O ajuste fiscal se baseia na proposta de conseguir R$ 2 trilhões com a venda de todas as estatais e de todos os ativos da União. Inviável, impossível e contraditório. Depois de ter defendido a venda até da Petrobras, na sabatina da Globonews, Jair Bolsonaro voltou atrás. O Balanço da União tem uma relação de 700 mil ativos. Isso inclui, por exemplo, o Palácio do Planalto. Alguém vai vender? É possível vender todos os prédios ocupados pelos três poderes da República, os parques nacionais, as florestas nacionais, as áreas de conservação? Tirando tudo que é inviável vender, sobrariam, segundo cálculos da Fazenda, algo como R$ 200 bilhões em ativos. Para vender cada um deles tem que se cumprir uma lista infindável de obrigações, mas vamos imaginar que tudo seja simplificado. Como seria vendido, por exemplo, o prédio do Ministério da Fazenda no centro do Rio? Difícil achar comprador para um edifício enorme, que precisará de muitos investimentos até para a climatização, e numa área com grande espaço ocioso em prédios novos e baratos. A conta não guarda a mínima relação com a realidade econômica e comercial.

A promessa é fazer tudo isso, liquidação geral de ativos e privatização, rapidamente, porque o déficit seria zerado no primeiro ano de governo. Quando na Globonews, Paulo Guedes foi perguntado sobre os prazos legais e obstáculos para a privatização, a resposta que ele deu foi: “Eu me recuso a ficar dentro da caixa, eu falo de uma aliança de centro-direita, nós não somos prisioneiros da caixa.” Não explicou como contornaria obrigações legais de avaliação, modelagem, e instituições como Ministério Público, Congresso, ou órgãos como Tribunal de Contas da União (TCU).

A campanha de Bolsonaro é obscura em todas as áreas, não apenas econômica. Na segurança, resume-se a permitir o porte de armas. Não há um projeto sobre o que o Estado fará para reduzir a criminalidade. Na educação, a proposta é apenas por uma escola militar por estado. Sobre saúde, questão climática, logística, cultura, ou qualquer outra área, não há propostas, simplesmente porque não há ideias. A campanha é improvisada, organizada por alguns militares, os filhos do candidato, e um ou outro amigo. Uma estrutura claramente insuficiente e que não se dispôs a pensar um projeto para o Brasil. Antes do atentado que sofreu, cada entrevista, debate, declaração do candidato só fazia aumentar sua rejeição. Para citar um exemplo: o país ainda chocado com a perda do Museu Nacional, e ele sai com um “já queimou, agora quer que eu faça o quê?” Seu vice, o general Hamilton Mourão, tem ido na mesma toada, como fez na declaração em que ofendeu mães e avós. Quanto menos Bolsonaro fala, mais ele é poupado do constrangimento de exibir seu enorme vazio de ideias e propostas.

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