O segundo semestre será de mais volatilidade cambial, e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirma que não defenderá uma taxa de câmbio, vai atuar apenas quando houver “disfuncionalidade” ou “pânico” no mercado. Seja na queda ou na alta brusca. Goldfajn, numa entrevista que me concedeu ontem, explicou como atuará nesse período de maior estresse na economia com a proximidade das eleições.
Ilan assumiu o Banco Central com a inflação em 9,5% e ela caiu para menos de 3%. Hoje sobe em parte pelo impacto da greve do transporte de carga, que deve levar a taxa de junho para cerca de 1%. A previsão geral é que ela voltará a cair. O dólar que estava em R$ 3,15 em 25 de janeiro foi a R$ 3,90 no começo de junho, o Banco Central ofereceu US$ 30 bilhões de operações de swaps, o câmbio cedeu um pouco e voltou esta semana ao patamar de R$ 3,90. Os assuntos monetários estão no meio do debate eleitoral, há motivos internos e externos para a instabilidade. O que o Banco Central vai fazer?
— Vamos oferecer para o Brasil o uso dos nossos amortecedores, para gerar mais tranquilidade, sem fixar o câmbio ou outros preços que dependam do que as pessoas acreditam que vai ser o futuro. Vamos oferecer tranquilidade — disse Ilan Goldfajn na entrevista que foi ontem ao ar na Globonews.
Ele disse que toda vez que não houver liquidez, que houver disfuncionalidade, quando não houver condições para a formação de preços, porque um acontecimento não foi ainda inteiramente absorvido, nesses momentos haverá intervenção do Banco Central. Ele deixou claro que não vai defender um teto do dólar. “O câmbio é flutuante”, disse ele, explicando que essa é uma das defesas, junto com o volume de reservas. Aliás, esse volume, segundo ele, é sempre considerado alto quando está tudo calmo, mas é usado nestes momentos de dificuldades.
Disse que não se encontrou com representantes de candidatos, exceto em ocasiões coletivas, mas defendeu insistentemente a tese de que, qualquer que seja a proposta, o importante será a garantia de continuidade do ajuste das contas públicas e das reformas.
A dívida pública está no meio do debate. Há candidatos que criticam o volume pago de juros, há quem defenda um teto para o custo do serviço da dívida. Ele acha que o caminho é pelo fiscal:
— Eu considero essencial é nossa visão futura sobre responsabilidade fiscal, sobre nossa capacidade de colocar as contas públicas em ordem. Isso é que vai dar tranquilidade, e permitirá juros menores. Todos nós somos detentores da dívida pública, nós todos investimos em fundos, em Tesouro Direto. Todos nós nos beneficiaremos de um juro menor ao longo do tempo, mas para isso é preciso fazer reformas, principalmente as fiscais, isso vai dar solidez. Quanto menos sinalização a gente tiver sobre o futuro, mais turbulência a gente vai ter no curto prazo.
Outro ponto da entrevista foi sobre os altos juros bancários. No último Relatório da Economia Bancária, o Banco Central defende, na minha visão, argumentos muito parecidos com os dos bancos para justificar os juros altos em todas as linhas de crédito. Ele discorda dessa minha avaliação sobre o Relatório. Contudo, diz que não é a concentração a responsável pelos juros altos, mas outros problemas da economia brasileira, como a capacidade de recuperar o crédito concedido, que é muito baixa em comparação a outros países. Ele sustenta que a gestão dele tem tomado uma série de providências para estimular a competição, como a portabilidade dos salários, o fortalecimento das fintechs, e o incentivo dos bancos médios onde o custo regulatório é menor. Ele acha que isso tem tido resultados:
— São medidas importantes, tanto que a taxa do rotativo que estava em 15% caiu para 10%. Claro que 10% é alto, mas vamos continuar trabalhando.
Quis saber também se há um cartel do câmbio no Brasil. Grandes empresas exportadoras estão na Justiça acusando os bancos de terem atuado como cartel entre 2007 e 2013. Ele não acredita que haja um cartel:
— Isso foi uma questão específica levada ao Cade, mas acho que não houve maiores influências no câmbio. O Cade vai se pronunciar a respeito.
Sobre a transição política, ele diz que vai depender “da capacidade de todos nós de oferecer o melhor futuro para os brasileiros”.
(Com Alvaro Gribel, de São Paulo)