Míriam Leitão: As incertezas de 2018

Nos últimos 20 anos, ou cinco eleições, o principal embate foi entre PT e PSDB. Neste ano, os dois partidos mais competitivos do país nas eleições presidenciais, nessas duas décadas, estão feridos pelas investigações de corrupção. A incerteza será a marca desse processo e ela pode persistir até a boca da urna, os cenários eleitorais estão em aberto.
Foto: José Cruz/Agência Brasil
Foto: José Cruz/Agência Brasil

Nos últimos 20 anos, ou cinco eleições, o principal embate foi entre PT e PSDB. Neste ano, os dois partidos mais competitivos do país nas eleições presidenciais, nessas duas décadas, estão feridos pelas investigações de corrupção. A incerteza será a marca desse processo e ela pode persistir até a boca da urna, os cenários eleitorais estão em aberto.

O cientista político Jairo Nicolau tem sustentado que é errado comparar a atual eleição com a de 1989 como costumeiramente tem sido feito. Argumenta, com gráficos que tem postado em suas contas nas mídias sociais, que o ex-presidente Fernando Collor liderou as intenções de votos durante a campanha. Ele começa seu gráfico faltando 165 dias para a eleições. Hoje faltam 168 e não há um favorito claro. O ex-presidente Lula, que lidera as pesquisas, será, provavelmente, declarado inelegível pela Lei da Ficha Limpa. Em 1989, a disputa que houve foi em torno do segundo lugar. Collor estava com 43% das intenções de voto em junho. Caiu, após o início do horário eleitoral, mas foi para o segundo turno com 28,5% dos votos. Lula estava com 8% e Brizola com 15%. Lula cresceu, com o programa eleitoral e, no final, com 16,08%, ultrapassou Brizola. A grande incerteza, portanto, era quem disputaria com Collor. “O quadro de 2018 é de uma imprevisibilidade nunca vista em nenhuma eleição brasileira”, disse Jairo Nicolau no Twitter.

De fato, visto por esse ângulo, 1989 não parece tão incerto. Mas houve mudanças e momentos dramáticos. Em março, Collor estava com 9%, Lula com 16% e Brizola, com 19%, segundo o livro “A Era Collor”, de Rodrigo de Carvalho. No segundo turno, houve um momento de empate nas intenções de voto. Faltavam três dias para as eleições, quando o Datafolha registrou 46% para Collor e 45% para Lula. A votação foi no dia 17 de dezembro. Ou seja, a eleição de 1989 foi suficientemente incerta. O que Nicolau está dizendo é que esta será ainda mais. De igual entre 1989 e 2018 o que há é a alta rejeição do presidente em exercício. Na véspera das eleições, 65% consideravam o governo Sarney ruim ou péssimo, segundo o Datafolha. Hoje, 70% têm essa avaliação de Temer.

O combate à corrupção será um fator relevante na formação do voto este ano. Hoje, parece haver uma dissonância entre os 84% que apoiam a Lava-Jato e o bom índice nas pesquisas do ex-presidente Lula, preso e condenado por corrupção. Como o processo anticorrupção não está restrito a um partido, ele deve afetar o desempenho eleitoral das grandes siglas, principalmente o PT, PSDB e PMDB. Isso aumenta a chance de candidaturas com pequenas estruturas partidárias, ou que apareçam diante do eleitor como uma novidade. E eleva o grau de incerteza eleitoral.

A economia sempre jogou um papel importante. Em 1989, a demanda era por quem tivesse uma solução rápida contra a inflação. Collor convenceu parte do eleitorado com sua promessa vã de abater a inflação com “um tiro”. Os outros candidatos não tinham propostas claras. Brizola falava nas “perdas internacionais” e Lula falava em acordos de preços e salários e não pagamento da dívida.

A eleição de 1994 foi o caso mais forte de casamento entre o voto e a economia. O resultado foi determinado pelo Plano Real e por isso o grande beneficiário foi o ministro da Fazenda, Fernando Henrique, que conduziu o plano na sua etapa preparatória e apareceu como o seu formulador. Mas aquela eleição foi única e sua dinâmica não pode ser reproduzida.

A economia está melhorando e saindo da crise extrema que viveu, quando foi jogada na recessão e inflação alta, no governo Dilma. Em 1986, a inflação começou o ano em 10,7% e o PIB teve queda de 3,5%. Este ano o país vai crescer em torno de 2,5% e a inflação está abaixo de 3%. Mas há uma dissonância entre os indicadores e a sensação de conforto econômico. Além disso, como mostrei na coluna de quinta-feira, há várias temperaturas na economia. Em Santa Catarina a produção industrial cresce 5%, e em Pernambuco encolhe 1,8%. Produtos de maior valor têm avanço nas vendas, enquanto bens de menor valor patinam. Em março, 70 mil empregos formais foram criados no Sul, Sudeste e Centro-Oeste e 13 mil foram fechados no Norte e Nordeste. O reflexo da economia nesta campanha não será de compreensão trivial. Por tudo isso, a eleição de 2018 pode vir a ficar com o título da mais incerta da nossa história.

(COM MARCELO LOUREIRO)

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