Como o ‘gabinete do ódio’ atuou durante os primeiros meses de governo, eventuais crimes estarão ligados ao presidente
Os assessores de Bolsonaro membros do chamado “gabinete do ódio” no Palácio do Planalto, principalmente Tercio Arnaud Tomaz, assessor-especial, são a partir de agora os principais obstáculos para a permanência dele à frente do governo, superando a ameaça que Queiroz representa.
Prevalecia entre os assessores jurídicos do Planalto a tese de que Bolsonaro não corria perigo de impeachment devido às apurações da rachadinha, mesmo que seu nome aparecesse diretamente ligado à prática, porque os fatos aconteceram antes de ele assumir a presidência da República, e o presidente não pode ser julgado pelo que ocorreu antes de seu mandato.
Como, no entanto, o chamado “gabinete do ódio” atuou durante os primeiros meses de governo, os eventuais crimes cometidos estarão diretamente ligados ao próprio presidente. Por outro lado, os processos que correm no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estão relacionados à interferência das redes sociais, especialmente do WhatsApp, na campanha presidencial e invasões de sites contra Bolsonaro.
A relação de Tercio Arnaud Tomaz com o presidente Bolsonaro vem de pelo menos 2015, muito antes de o projeto presidencial ter tomado corpo. Ele foi, aliás, o criador de memes que viralizaram na internet, na página “Bolsonaro Opressor”, criada em 2015, depois aperfeiçoada para “Opressor 2.0”, que publicava críticas violentas contra adversários do presidente, e Bolsonaro usando aqueles óculos de memes quando dava alguma declaração considerada bombástica, ou respondia a uma acusação de modo peremptório.
Foi Tercio Arnaud também quem popularizou o apelido de “Mito” para Bolsonaro, que naturalmente adorou. O presidente certa vez disse que esse apelido surgiu quando estava na caserna, e achavam que suas pernas eram finas “como palmito”. Não se sabe se ele contou essa história para Tercio, ou se a inventou para não parecer presunçoso.
O fato é que Tercio o admirava tanto que chorou ao telefone pela primeira vez, quando foi convidado para trabalhar com Bolsonaro em Brasília como assessor parlamentar do então deputado federal. No começo de 2018, já em plena campanha presidencial, foi transferido para o Rio, com direito a casa e emprego.
Foi viver em um pequeno apartamento de Bolsonaro na Barra da Tijuca, próximo ao condomínio onde morava. Não era lá grande coisa, dormia num colchão no chão do apartamento sem mobílias. Mas vivia para cima e para baixo com “o capitão”.
O emprego foi de assessor do vereador Carlos Bolsonaro, também muito ligado às redes sociais. Carlos, aliás, ontem, postou uma mensagem enigmática no twitter dizendo que “ninguém é insubstituível”, e que pretende encontrar novos caminhos. Não se sabe exatamente o quis dizer, apenas que o baque da ação do Facebook foi grande.
A proximidade de Tercio Arnaud com Bolsonaro é tamanha que não foram poucas as vezes em que ele dormiu no Palácio da Alvorada, trabalhando com o presidente a estratégia de redes sociais. O sucesso de sua página “Bolsonaro News” levou a que tivesse também uma página no Instagram.
O Laboratório Forense Digital do Atlantic Council, que fez a investigação para o Facebook, aponta Tercio como administrador da página de Instagram @bolsonaronewsss. Essas ligações perigosas entre os dois provavelmente levarão a que os inquéritos em progresso tanto no Supremo Tribunal Federal (STF) quanto no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sejam alimentados com as informações do Facebook.
Ambos os inquéritos têm como escopo as fake news e a influência delas na campanha presidencial não seria uma inovação. Basta que os relatores, ministro Alexandre de Moraes no STF e Og Fernandes no TSE requeiram a anexação. É possível também que algum parlamentar, ou partido político, peça anexação do resultado da investigação do Facebook, mas a decisão será sempre dos relatores.