A ex-senadora Marina Silva surge como a grande beneficiária da saída do ex-presidente Lula da campanha presidencial na mais recente pesquisa do Datafolha. Ela está empatada tecnicamente na liderança com o deputado federal Jair Bolsonaro e à frente de políticos tradicionais com fortes estruturas partidárias, como Geraldo Alckmin do PSDB e Ciro Gomes do PDT.
Esse quadro de momento reforça a ideia de que, nesta campanha presidencial, quem tem voto não tem estrutura partidária nem tempo de televisão, e quem os tem, não tem voto. Marina classifica os seus dez segundos de propaganda eleitoral em cada bloco diário como “mais do que insuficiente”, e atribui a divisão do fundo partidário e do tempo de televisão a um acordo dos grandes partidos “para que a sociedade brasileira não ouse mudar”.
Mas, em seu estilo próprio, diz que “200 milhões de brasileiros são sempre maiores do que aqueles que se sentem donos do poder”. Ela conta que continua dialogando com diversos partidos, “mas com uma atitude de respeito”, porque considera que, em uma eleição de dois turnos, é legítimo que os partidos queiram levar sua mensagem aos eleitores.
“Conversar não significa necessariamente que fulano tem que desistir de seus projetos iniciais. A gente vai amadurecendo no processo até o momento de formalizar alianças. Tem muito tempo pela frente”, diz ela. Embora reconheça que não é uma tarefa fácil, devido à fragmentação das candidaturas, Marina diz que “se a violência, a mentira e a assimetria dos meios para divulgar as mensagens forem minimamente superadas, a sociedade pode fazer, desta vez, o que tentou em 2014 e não conseguiu, que é ter uma vitória para chamar de sua, e não das estruturas partidárias”. Nessa eleição e na anterior, em 2010, Marina teve cerca de 20 milhões de votos em cada uma, mas não foi para o segundo turno.
Ela acredita que se os grupos de polarização clássica da política brasileira, PT e PSDB, não se unirem em blocos à direita e à esquerda, “podemos ter novidades”. A exceção seria Bolsonaro, “uma direita radical”. Marina diz que sente em suas viagens pelo país “um interesse genuíno da sociedade em buscar uma nova governabilidade, que não seja o presidencialismo de coalizão, mas de proposição, que tenha uma visão da função do Estado não como provedor nem apenas regulador, mas um Estado que seja capaz de mobilizar os melhores meios de que dispomos, tanto na iniciativa privada quanto no próprio setor público, na academia”.
Essa seria, em sua visão, uma atitude contemporânea, “coerente com um mundo em crise de paradigmas”. Se o Brasil quer um novo ciclo de prosperidade, diz Marina, “vamos ter que fazer uma quebra no paradigma da velha política, da economia, sem que seja uma aventura”. Ela espera que o novo Congresso tenha uma mudança significativa, e diz que a sustentação desse pensamento será dada pela sociedade, que vai deixar para trás os grupos políticos como os de Sarney e Antonio Carlos Magalhães.
A pré-candidata da Rede diz que “não precisa reinventar a roda” para fazer um plano de governo eficiente: “Recuperar os fundamentos da política macroeconômica do Plano Real e aprofundar a inclusão social, indo para os programas sociais de terceira geração com inclusão produtiva e com políticas sociais customizadas”.
Ela diz que o mundo sonha com a refundação do Brasil, e está disposto a investir aqui, mas ressalta que para apostar num novo ciclo de prosperidade é preciso “fazer com que esse país invista pesadamente em energia renovável, limpa, segura, diversificada. Buscar integrar o Brasil numa liderança global, nas cadeias produtivas globais, mas também nos debates, onde o país perdeu o protagonismo na área de meio ambiente, sustentabilidade, direitos humanos”.
Na sua visão, o mundo está indo na direção do século XXI e nós estamos aqui discutindo temas do século XX. “O maior produtor eólico no mundo é a China. Os Estados Unidos, apesar de toda loucura do Trump, continuam na direção correta do desenvolvimento sustentável. O Brasil vai ter que investir pesadamente em Educação, tecnologia, inovação e ser capaz de dialogar com os núcleos vivos da sociedade”.
Marina rebate a acusação frequente de que está sumida da política. Ela cita: “Minhas posições são claras: quem se posicionou contra o foro privilegiado, contra a lei de abuso de autoridade, quem defende claramente a Lava-Jato, quem foi que entrou com pedido de cassação do (Eduardo) Cunha e do Delcídio (Amaral), quem foi que levou o Aécio (Neves) para a Comissão de Ética, quem foi que entrou no STF para que investigados não ficassem na linha sucessória, quem foi que defendeu o tempo todo a cassação da chapa Dilma-Temer e uma nova eleição? Quem foi contra a anistia do caixa dois?