A luz amarela que o prefeito de São Paulo João Doria acendeu depois da primeira pesquisa Ibope para a Presidência da República em 2018 indica que a possibilidade de uma polarização entre Jair Bolsonaro e Lula assusta, ou deveria assustar, as demais forças políticas que começam a se organizar para a disputa.
Doria parece disposto a não se chocar com seu patrono, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, mas, para ele, o susto com a radicalização da campanha é um bom motivo para mantê-lo em uma corrida que parece perdida internamente no PSDB.
Ele não pretende sair do partido para disputar a eleição presidencial, mas diz que aprendeu que, em política, um dia é uma eternidade, quanto mais seis meses, o tempo máximo para uma definição. Isso significa que até lá há possibilidade de uma mudança na tendência tucana, hoje francamente favorável a Alckmin.
Se não acontecer, Doria fará uma composição com o governador de São Paulo, para disputar sua sucessão ou, mais provavelmente, permanecer na prefeitura, tornando-se o candidato natural do partido para voos mais altos logo adiante.
No fundo, ele não perde as esperanças de que o PSDB se convença de que seu estilo agressivo de ser anti-Lula ainda é a melhor opção para vencer a eleição de 2018, mesmo com a queda de popularidade que abalou seu favoritismo.
Essa queda, aliás, parece ter tido o poder de levar Doria a uma posição mais reflexiva, admitindo ter cometido erros na ânsia de cumprir metas e realizar promessas. O político arrojado que queria abraçar o mundo com as mãos e as pernas parece estar se convencendo de que é preciso dar tempo ao tempo.
Desacelerar, dar dois passos atrás para depois avançar, como ele mesmo definiu ontem em conversas diversas no Rio. O sinal de advertência que anunciou, pedindo a união entre os políticos de centro para combater os que identifica como extremistas de esquerda e de direita, é uma demonstração de que não pretende esgarçar sua relação com o governador Geraldo Alckmin, que esteve a ponto de se romper, ou mesmo inviabilizar sua permanência no PSDB.
Doria parece convencido de que se candidatar a presidente depois de uma disputa interna com seu mentor lhe daria uma vitória de Pirro, identificando-o como traidor, marca difícil de superar. Mas está convencido também de que a campanha será dura e renhida e, por isso, considera que um outsider como Luciano Huck não aguentaria o tranco.
A união em torno de uma candidatura de centro, que, não sendo a dele, seria a do governador Geraldo Alckmin, daria a ela um respaldo eleitoral para superar a radicalização dos extremos. É sempre bom lembrar que Aécio Neves, o candidato do PSDB em 2014, saiu de São Paulo com uma vantagem de sete milhões de votos, mesmo sendo mineiro.
O último candidato paulista à Presidência, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, saiu do estado com cinco milhões de votos de vantagem e venceu Lula no primeiro turno duas vezes. Pacificados os tucanos em São Paulo, o candidato de consenso pode sair do estado com uma vitória maior ainda, que pode viabilizar a chegada ao segundo turno.
A questão é melhorar a performance em outras regiões do país hoje claramente tendentes a Lula, como no Nordeste, onde o ex-presidente chega a ter 50% dos votos. A primeira pesquisa do Ibope, confirmando a polarização entre os candidatos dos extremos políticos, fez com que as forças políticas de centro se convencessem de que é preciso unir esforços para se viabilizarem na disputa, que promete ser mais favorável aos que fazem da política uma guerra do “nós contra eles”.
Doria tentou se colocar como o anti-Lula e acabou perdendo terreno dentro do próprio partido, mas continua fazendo questão de manter essa marca. Como já sabe que, até a decisão final, há uma eternidade política pela frente, ainda acredita que reverterá a queda de popularidade.
Mas já se convenceu de que não terá chances se não for o candidato de consenso dentro de uma coalizão centrista.