Presidente da República sem apoio do Congresso, e com a economia em desacerto, não termina bem
Mesmo, ou talvez por isso, com o presidente Jair Bolsonaro fazendo piada sobre seu próprio pibinho, nada muda o fato de que o país está com dificuldades econômicas graves, e sem perspectiva de solução, agora que o Covid-19 atacou a economia mundial. Antigamente dizia-se que quando os Estados Unidos espirrava, o Brasil pegava uma pneumonia. E agora que o coronavírus contaminou o mundo todo, numa pandemia não declarada, inclusive as duas maiores economias do mundo globalizado, Estados Unidos e China?
Mais do que nunca é preciso avançar com as reformas, mas à medida que o resultado econômico não chega, mais Bolsonaro vai deixando de lado seu viés liberal. Já teria pedido um crescimento mínimo de 2% do PIB para este ano a Paulo Guedes, missão que, com as novidades, parece impossível.
Seu faro político-eleitoral está apontando para um cenário perigoso, e ele tem razão, sobretudo quando a crise com o Congresso, que o favorece diante de seu eleitorado mais fanático, tem efeitos colaterais que nossa história recente registra tristemente.
Presidente sem apoio do Congresso, e com a economia em desacerto, não termina bem. É verdade que os dois presidentes impedidos desde a redemocratização chegaram a crises econômicas devastadoras: o governo Collor registrou retração de 2,06% do PIB e, de 6,97% da renda per capita.
O segundo governo Dilma teve, entre parte de 2014 e maio 2016, uma retração média de 2,2%. O ano em que Michel Temer assumiu o governo ainda terminou com um PIB negativo de 3,5%, o país saindo da recessão apenas em 2017, com um crescimento pífio de 1,3%, que se repetiu no ano seguinte.
Mesmo com apoio parlamentar, Temer viu-se às voltas com pedidos de impeachment. Tinha uma impopularidade marcante, assim como Collor e Dilma, o que os diferencia de Bolsonaro, que ainda tem boa margem de apoio no eleitorado.
Esses resultados pífios da economia brasileira, especialmente na última década, fizeram com que o poder de compra do brasileiro estagnasse no tempo, quando não decresceu. Em 1980, o PIB per capita brasileiro equivalia a quase 40% do dos Estados Unidos, e hoje está em 26%.
Nesse período, o PIB per capita do Chile passou de 27,4% para 41,5% do indicador dos EUA; o da China, de 2,5% para 28,9% e o da Coréia do Sul, de 17,5% para 66%.
Os números levam em conta o critério de paridade do poder de compra (PPP, na sigla em inglês), com base em estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI). Nos últimos três anos, o nosso PIB per capita recuou, crescendo menos que o PIB nacional.
O presidente Bolsonaro, como qualquer outro presidente, destacou o lado bom, que este teria sido o melhor semestre desde 2013, o que não impediu que o resultado final fosse o pior crescimento desde a recessão do governo Dilma.
Ele, no momento, tem que manter a esperança de que a economia está sendo preparada para a retomada, apesar das constantes decepções. O ministro Paulo Guedes diz que “temos só 15 semanas para salvar o Brasil”, conclamando os deputados a aprovarem no primeiro semestre as reformas administrativa e tributária, antes do início da campanha das eleições municipais.
Collor e Dilma combinaram, em determinado ponto de seus mandatos, impopularidade e crise econômica. Temer foi tão ou mais impopular que os dois, mas conseguiu manter o apoio do Congresso graças à percepção de que estava levando a economia para fora da recessão.
Bolsonaro continua popular, e a política econômica liderada de Paulo Guedes mantém as expectativas de crescimento, embora já tenhamos começado o ano com a perspectiva de um crescimento medíocre devido à pandemia do Covid-19, que afetará o mundo.
Essa dicotomia, o governo dependendo do Congresso para aprovar as reformas, e o presidente da República, para manter sua popularidade em níveis razoáveis, dependendo do apoio de seus radicais contra o Congresso, é que dificulta uma prospecção a médio prazo.