Mesmo os que acreditam na força da política tradicional, com seus acordos por baixo dos panos e suas coligações estapafúrdias para aumentar o tempo de televisão, fogem do PMDB e do próprio presidente Michel Temer. A janela de mudança partidária permitida pela legislação começou com uma evidência de debandada de políticos do maior partido do país, que bem ou mal está no poder.
Essa insegurança partidária atinge os candidatos regionais, que fazem acordos localizados que terão repercussão negativa no final das contas, ajudando a manter a incoerência intrínseca de nosso sistema político-partidário.
Os acordos que obedecem a uma lógica local — que se distancia da lógica nacional da candidatura presidencial — farão com que vários candidatos frequentem palanques variados, misturando mais ainda a cabeça do eleitor.
Também o DEM e o PSDB sofrem com a corrida de políticos para outros portos mais seguros. É provável que a frágil Rede de Marina Silva venha a recolher algumas adesões que lhe restituirão a possibilidade de participar dos debates na televisão, depois que perdeu o número mínimo de cinco parlamentares exigido pela legislação eleitoral. Suas expectativas de poder, mostram as pesquisas, são mais sólidas do que as de políticos teoricamente bem estruturados, como Geraldo Alckmin.
O deputado Jair Bolsonaro entrou para o PSL seguido por uma série de adesões de deputados que enxergam nele uma expectativa de poder viável, enquanto a esquerda e o centro estão paralisados na busca de definições. Com Lula fora da disputa, o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, é a face mais visível da esquerda na corrida presidencial, mas a ambição política leva a que a união das esquerdas seja impossível no primeiro turno.
Cada um acha que podem sobrar para si os restos mortais políticos de Lula, sem acreditar que ele seja capaz de transferir, mais uma vez, sua popularidade para outro poste, depois do fracasso em que se transformou o governo de Dilma Rousseff.
Além disso, uma coisa é eleger uma sucessora estando no poder com popularidade em alta e um crescimento de 7,5%, turbinado por ações populistas que deram início à derrocada econômica que se viu a partir de 2010. Outra bem diferente é eleger um escolhido estando às voltas com condenações na Justiça, uma prisão iminente, e evidências de atividades corruptas em vários níveis.
Uma situação dessas limita a capacidade de transferência de votos a um público bastante reduzido, que pode até levar o ungido a um segundo turno, diante da fragmentação de uma eleição disputada por mais de 20 candidatos, mas não garante uma vitória ao final.
Também ao centro não há convergência de candidaturas, todos vendo à frente um espaço a ser ocupado pelo mais ousado. E esses ousados procuram se distanciar do governo — a que serviam até pouco tempo —, por mais poder que tenha a máquina partidária do PMDB.
Hoje, acredita-se mais na cristianização de um eventual candidato governista, ainda mais se ele for o próprio presidente Temer, do que na ressurreição de sua popularidade devido à recuperação econômica ou ao sucesso da política de Segurança nacional iniciada no Rio de Janeiro.
O mais provável é que a balcanização das influências partidárias torne mais difícil governar um país quebrado e sem projeto de futuro. Não há no tabuleiro eleitoral, nem fora dele, figura política capaz de mandar uma mensagem de reconciliação e reconstrução para o futuro. E o que tenta vender essa capacitação mais parece hoje um “Napoleão de hospício”, falando de um passado que não existiu e vendendo um futuro que não tem condições de entregar.
Difícil acreditar que desta corrida maluca saia algum governo minimamente capacitado a enfrentar os graves problemas que o país tem pela frente.
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