Merval Pereira: Futuro incerto

Um panorama inquietante. Assim podem ser resumidos os cenários pós-eleição traçados pela consultoria Macroplan, especializada em planejamento, gestão e cenários prospectivos.
Foto: Gastão Guedes/Wikipedia
Foto: Gastão Guedes/Wikipedia

Um panorama inquietante. Assim podem ser resumidos os cenários pós-eleição traçados pela consultoria Macroplan, especializada em planejamento, gestão e cenários prospectivos. A análise da consultoria vem há bastante tempo batendo na mesma tecla:a crise brasileira, e a campanha presidencial em particular está confirmando, sofre com a escassez de líderes com visão de longo prazo e capacidade de infundir confiança por meio do exemplo, problema que ainda vai perdurar por um longo período e promete ser um desafio para os eleitores nos próximos pleitos.

A perda de legitimidade de políticos – independentemente de vinculações partidárias – tornou-se endêmica. Nomes antes promissores foram varridos do tabuleiro político, e não há no horizonte novos líderes despontando.

O economista Claudio Porto, presidente da consultoria, traçou cinco cenários para o governo do Brasil 2019-2022 a partir de duas indagações básicas: o que vai prevalecer, “a sedução do populismo” ou “a saída não-populista”? Ambos têm variantes bem distintas, diz o diretor da consultoria, mas, hoje, “probabilidade idêntica de ocorrer: 50% x 50%”.

Durante as pesquisas e entrevistas para a composição dos cenários mais prováveis, a Macroplan buscou respostas para questões como “Que coalizão de forças governará o Brasil?”; o futuro próximo será “tão vertiginoso em surpresas e descontinuidades como o dos últimos cinco anos ou haverá maior previsibilidade?”.

Por ora, avalia Claudio Porto, a conjuntura atual nos revela um paradoxo: de um lado, uma elevada incerteza quanto aos resultados mais prováveis das eleições, em virtude da acentuada pulverização das forças políticas, num contexto de elevada descrença e mau humor do eleitorado. De outro, muita clareza quanto aos cenários mais plausíveis pós-eleições.

Porto ressalta que qualquer que seja o cenário, o governo eleito terá que conviver com cinco condicionantes:

1. Uma herança maldita: o país terá uma renda per capita 9% abaixo da de 2014 e desemprego entre 13 e 14 milhões de pessoas. Além disso, o Estado brasileiro está quebrado. Hoje vive no que classifica de ‘cheque especial’, necessitando de um ajuste na ordem de 5 a 6% do PIB (R$ 330 a 400 bilhões), segundo estimativa do economista Armínio Fraga.

2. Um contexto externo que não será tão favorável quanto o dos últimos anos, por conta da guerra comercial empreendida por Trump.

3. Uma tensão permanente entre população impaciente com a política versus as práticas da maioria fisiológica no Congresso Nacional.

4. O acirramento dos conflitos em torno do orçamento público:fortes demandas da sociedade por mais e melhores serviços públicos, o menor custo x pressões e conflitos corporativos (servidores públicos, grupos empresariais, grupos políticos) por recursos e privilégios, num quadro de forte escassez.

5. O prosseguimento das operações de combate à corrupção, embora com menor intensidade e impacto.

Com este pano de fundo, o cenário “sedução do populismo”,na visão da Macroplan, tem como traço característico a emergência de um líder carismático que encarna o sentimento popular, apresenta-se como o ‘salvador da pátria’ e faz uma comunicação direta com a população.

“Nomeia inimigos, geralmente genéricos (as elites, os esquerdistas, os rentistas, a grande mídia, os banqueiros ou os malandros). Promete soluções fáceis e rápidas, porém impraticáveis. Induz o confronto, a divisão e o ressentimento e revela forte propensão para o intervencionismo estatal, o autoritarismo, a indisciplina fiscal e o assistencialismo”.

A Macroplan não explicita, mas é fácil entender que se refere às candidaturas que estão na frente pelas pesquisas eleitorais. À esquerda, o ex-presidente Lula e o PT, à direita o candidato Jair Bolsonaro. Nem todos os predicados citados colam nos dois candidatos, mas certamente os dois têm a maioria deles. E, correndo por fora, quando se trata de populismo, Ciro Gomes promete pagar a dívida no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) de dezenas de milhões de brasileiros. (Amanhã – A saída não-populista)

PS: o senador Agripino Maia nega que vá apoiar Ciro Gomes, como a campanha do candidato do PDT afirma.

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