Petista cresceu 8 pontos na faixa acima de dez salários mínimos, o que pode ter sido influenciado pela retórica de Bolsonaro
A redução da diferença entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad na reta final da campanha adiciona mais emoção a um resultado que parecia já estar dado. O PT tem a fama de mobilizar seus militantes no que chamavam de “onda vermelha”, mas não se sabe exatamente se essa capacidade continua ativa.
Jair Bolsonaro, que continua liderando a pesquisa Datafolha em todas as regiões do país, menos no Nordeste, onde Fernando Haddad vence por 56% a 30%, tem também uma capacidade de convocação de seus adeptos que já se mostrou eficiente nas manifestações organizadas pelos novos meios de comunicação, e não se sabe se essa força se mostrará na ida às urnas, e no proselitismo de última hora para impedir que a “boca do jacaré” se feche em favor do petista.
Os pesquisadores usam essa gíria para indicar que a diferença entre dois candidatos está diminuindo. Há uma tendência histórica de que a boca do jacaré não se feche totalmente nas disputas presidenciais, mas, como essa eleição é atípica e muito polarizada, nada é impossível.
A diferença, que era de 18 pontos, caiu para 12, mas, na prática, ela era de 9 pontos percentuais e caiu para 6, pois cada ponto que um candidato ganha, o outro perde em disputas polarizadas. Isso ainda significa cerca de cinco milhões de votos por dia para serem revertidos.
Da última pesquisa Datafolha para esta, a queda de Bolsonaro, que já havia sido detectada pelo Ibope, foi fora da margem de erro, e o pior para Bolsonaro é que o petista também cresceu fora da margem de erro, conseguindo reduzir a diferença. Haddad ganhou sete pontos na Região Norte e quatro na Sul, suas maiores subidas. No Sudeste, o presidenciável do PSL mantém vantagem considerável (53% a 31%); no Sul e no Centro-Oeste, Bolsonaro tem quase 60% dos votos totais.
Não se sabe se essa mudança de humor do eleitorado é uma tendência ou se pode ser uma questão circunstancial devido às últimas acusações contra Bolsonaro, e também aos próprios erros do candidato e seu entorno. Os últimos dias foram bastante conturbados, e a pesquisa pode ter apanhado as consequências de fake news que não se confirmaram contra Bolsonaro, como a acusação a seu vice, general Mourão, de que teria sido um torturador.
O petista cresceu oito pontos entre os que ganham acima de dez salários mínimos, o que pode ter sido influenciado pela retórica agressiva de Bolsonaro, que radicalizou nos últimos dias. Mas, nesse segmento, continua perdendo para Bolsonaro, que tem mais de 61%. Haddad continua vencendo entre os mais pobres (até dois salários mínimos), por 47% a 37%.
No eleitorado masculino, Bolsonaro bate Haddad por 20 pontos: 55% a 35%. Entre as mulheres, há empate técnico: 42% a 41%. Da mesma maneira que a pesquisa do Ibope, que mostrou um crescimento da rejeição de Bolsonaro e uma redução na do petista, também o DataFolha mostra a rejeição de Haddad caindo dentro da margem de erro, enquanto a de Bolsonaro subiu três pontos.
A redução de seis pontos aconteceu porque Bolsonaro perdeu três pontos percentuais, enquanto Haddad subiu três pontos. Como o número de indecisos permaneceu estável, há indicações de que o petista roubou votos de Bolsonaro, condição necessária para que vire o jogo nos últimos dois dias de campanha, que se encerrou ontem no rádio e na televisão.
A disputa agora será nas ruas até o próximo domingo, e tudo indica que a violência das posições do líder das pesquisas afetou sua preferência entre os jovens, por exemplo, em que liderava e agora já está empatado com Haddad. Tudo leva a crer que teremos emoções não previstas nos últimos dias de campanha. Como escrevi aqui, a pesquisa do Ibope do início da semana era um sinal de alerta para a campanha de Bolsonaro, embora a mudança tivesse sido dentro da margem de erro.