Principal risco da saída ‘não populista’ é a dificuldade de se realizar, com êxito, uma travessia de ajustes sólidos
A consultoria Macroplan, especializada em estratégia e cenários futuros, traçou cinco cenários para o governo do Brasil 2019-2022 a partir de duas indagações básicas: o que vai prevalecer, “a sedução do populismo” ou “a saída não populista”? Ambas têm variantes bem distintas, diz o presidente da consultoria, economista Claudio Porto, mas hoje “probabilidade idêntica de ocorrer: 50% x 50%”.
Na coluna de ontem analisamos parte do cenário “sedução do populismo”, que se desdobra em três variantes segundo o estudo da Macroplan: (1) populismo “à direita”, com probabilidade de 26%; (2) populismo “à esquerda”, com 24%; e (3) populismo “de ocasião” — que o economista Claudio Porto, diretor da consultoria, chama de “oportunista e metamórfico, ora pendendo para a direita, ora para a esquerda”, cuja probabilidade não foi mensurada na pesquisa.
Em qualquer de suas variantes, o principal risco que este cenário base antecipa é a imprevisibilidade e a instabilidade política e econômica, avalia a Macroplan. Em “sedução do populismo”, o crescimento econômico não se sustenta — a Macroplan estima crescimento em torno de 2% ao ano. Há também um risco inflacionário associado aos cenários do populismo “de esquerda” ou “de ocasião”, analisa Claudio Porto, dizendo que basta lembrar que no governo Dilma, em 2015, a inflação anual chegou perto dos 11%.
No plano político, a governabilidade tende a ser mantida com dificuldades e o ambiente de negócios, problemático. A insegurança jurídica tem viés de alta. Já o cenário “não populista” emerge com a rejeição popular a lideranças radicais e soluções mágicas.
Nesse caso, segundo a Macroplan, o sistema político funciona, mesmo que precariamente. E as lideranças desta coalizão infundem certo grau de “confiança realista” na população, cultivando expectativas moderadas quanto à superação das dificuldades herdadas.
A cooperação e a negociação constituem a principal ferramenta política, com espaço para a promessa de soluções plausíveis e racionais, inclusive algumas reformas e o respeito formal às instituições. Neste cenário há uma propensão a minimizar o custo político, econômico e social de medidas e reformas econômicas — salvo em conjunturas de agudização de crises —, como ocorreu com a forte desvalorização do real, em 1999, que obrigou o Banco Central a abandonar o regime de bandas cambiais e passar a atuar no regime de câmbio flutuante.
A saída “não populista” tem, hoje, uma probabilidade também de 50% e compreende duas variantes: ( 1) a “conservação do status quo”, com 27% de chances, e ( 2) o “reformismo modernizante”, com 23% de possibilidade de concretização, segundo a pesquisa da Macroplan. O principal risco da saída “não populista”, em qualquer de suas variantes, é a dificuldade de se realizar, com êxito, uma travessia de ajustes sólidos nos dois primeiros anos de governo, em meio a fortes resistências, ressalta a Macroplan. A governabilidade poderá ser ameaçada por confrontações e conflitos frequentes com as corporações e/ou com o enfrentamento das demandas fisiológicas. O cenário de “conservação do status quo”, se vier a prevalecer, nos levará apenas a mudanças incrementais, à consolidação do imediatismo como padrão do governo, ao baixo crescimento econômico (em média 2,5% ao ano) e inflação em torno dos 5% anuais. Um prolongamento do cenário atual, um pouco melhorado.
Dadas as condições atuais do Brasil, o cenário “reformismo modernizante”, na opinião do economista Claudio Porto, é o único que nos oferece uma chance de ingressar numa rota de crescimento econômico sustentável. Pressupõe um Estado compacto, regulador, provedor de segurança jurídica e proteção social, um forte ajuste fiscal estrutural, abertura progressiva da economia e forte estímulo à concorrência.
Para este cenário a Macroplan estima um crescimento médio de 3,1% ao ano, no período de 2019- 22, e viés de alta: pode chegar a 4,1% ao ano nos oito anos seguintes. Já a inflação está estimada em 3,9% ao ano (2019- 22), caindo para 3,3%, entre 2023 e 2030.