Julia Lindner / O Globo
BRASÍLIA — Após um início de negociação que pareceu promissor, entraves estaduais e visões distintas sobre a eleição à Presidência distanciaram o MDB de uma federação partidária com o União Brasil. Hoje, o plano de uma ala dos emedebistas é estruturar um bloco de apoio que supere a força do Centrão e possibilite a retomada do controle do Congresso no ano que vem.
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O partido, que nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT) chegou a presidir simultaneamente Câmara e Senado, perdeu força e, na gestão de Jair Bolsonaro, não esteve à frente de nenhuma das Casas.
Dirigentes da sigla avaliam que, a partir das movimentações da janela partidária — o período de trocas começa amanhã e dura um mês —, será possível ter um mapa mais completo da construção das chapas nos estados. A legenda mantém o posto de maior bancada no Senado, com 16 integrantes, mas é a sexta em tamanho na Câmara, com 34 representantes.
Assim, as negociações com outros partidos seguem no radar, mas sem a amarração de uma federação — neste modelo, há a obrigação de atuação conjunta por quatro anos, o que inclui também a eleição municipal de 2024.
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— Os partidos estão procurando se fortalecer para disputar as presidências das Casas, as comissões mais importantes e as relatorias. Tudo isso ocorre em função do número de parlamentares — resume o senador Marcelo Castro (MDB-PI).
Com a federação ficando mais longe, emedebistas pretendem negociar a formação de um bloco parlamentar com o União Brasil e outras siglas. A ideia é buscar um “equilíbrio congressual”, com a aliança de legendas de centro e centro-direita — o objetivo seria superar os partidos de esquerda e o Centrão, principalmente na Câmara.
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No Senado, presidido pelo MDB ao longo de 30 anos desde a redemocratização, a costura passa pelo PSD. No governo Bolsonaro, os emedebistas foram derrotados duas vezes ao tentarem assumir a Casa: primeiro, por Davi Alcolumbre (União-AP), que derrotou Renan Calheiros (MDB-AL); depois, por Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que superou Simone Tebet (MDB-MS).
Renan, que já presidiu o Senado quatro vezes, tratou do assunto com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, que sinalizou a possibilidade de um acordo para o emedebista voltar ao posto a partir do ano que vem. Kassab tem indicado a intenção de lançar candidatura própria ao Palácio do Planalto, mas, ao mesmo tempo, ensaia uma aproximação com o PT.
Embora ainda não tenha havido um anúncio oficial, Pacheco já sinalizou a pessoas próximas que não pretende entrar na corrida presidencial em 2022. Neste cenário, ele quer tentar a reeleição ao comando do Senado, que será sua prioridade ao longo do ano.Tudo vai depender, no entanto, de quem será o titular na cadeira do Palácio do Planalto.
O PSD tem a segunda maior bancada do Senado, com 11 integrantes, e nutre a expectativa de crescer no próximo ano. Por isso, a sigla é considerada crucial para definir o resultado do pleito que definirá o presidente do Senado no biênio 2023-2024.
Ainda dentro da estratégia de privilegiar a formação de bancadas, o grupo de Renan vai insistir na tese de que é importante apoiar Lula, em detrimento da candidatura própria de Simone Tebet. Um dos argumentos é que, em 2018, o desempenho ruim de Henrique Meirelles, que teve 1% dos votos, atrapalhou o partido nas disputas ao Legislativo. A postura de Renan, inclusive, foi um dos fatores de insatisfação de lideranças do União Brasil, que são contra qualquer alinhamento com o ex-presidente.
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Os cenários em São Paulo, Bahia, Paraíba e Ceará também dificultaram a formação de um consenso para a federação. Na Paraíba, por exemplo, o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) deve disputar o governo do estado com o apoio de Lula, enquanto o deputado Efraim Filho (União) quer concorrer ao Senado com o endosso de Bolsonaro.
Contrário à federação, o ex-senador Eunício Oliveira (CE) explicita a dificuldade de um acordo amplo.
— Quem vai mandar em cada estado? E para qual lado a federação vai? Há um grupo que apoia Lula (no MDB), ao mesmo tempo em que há um partido com origem bolsonarista — pontua Eunício, em referência ao fato de o União Brasil ter deputados oriundos do PSL, partido pelo qual o presidente se elegeu.
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Debates em andamento
PT-PSB-PCdoB-PV
A federação esbarra principalmente em entraves locais entre PT e PSB, que não abrem mão de candidaturas a governos de São Paulo e Rio Grande do Sul. Nas outras siglas, a união é vista como forma de bater a cláusula de barreira este ano.
Rede-PSOL
Ambos tentam garantir a superação da cláusula de barreira e maior capilaridade. O principal entrave é a decisão do PSOL de apoiar o ex-presidente Lula (PT), algo que lideranças da Rede, como Marina Silva, não querem.
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Cidadania-PSDB
A cúpula do Cidadania já aprovou formar federação, e aguarda resposta dos tucanos. A acordo prevê que o PSDB tenha 80% da governança e que as siglas escolham uma entre as duas pré-candidaturas postas, de João Doria (PSDB) e Alessandro Vieira (Cidadania).
Fonte: O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/mdb-se-distancia-de-federacao-com-uniao-brasil-cria-plano-para-retomar-controle-do-congresso-25415143