Nem dois meses e já são evidentes os estragos desse governo do meme que virou presidente. Um despreparado, cercado de filhos patetas e um time de ministros medíocres, com um trio especialmente imbecil (precisa dar nomes?). Todos deslumbrados pelo poder, insuperáveis no fornecimento de doses diárias de vergonha alheia.
Eu não votei no Bolsonaro, graças a Deus (Brasil acima de tudo, Deus acima de todos), nem votei no PT, mas isso não me exime das responsabilidades de cidadão nem me torna um “isentão”. Não sou eleitor petista nem bolsonarista, não acredito que o Lula é injustiçado, não acho que o impeachment foi golpe mas também não via capacidade (nem legitimidade) na presidência interina do Temer (que devia ter caído junto com a Dilma).
Quer dizer, está difícil me encaixar em algum lado dessa polarização. Na verdade, eu diria mesmo que é impossível, até porque nenhum deles me representa. Assim se descobre na prática que criticar os gurus do petismo e/ou do bolsonarismo é comprar briga com verdadeiras milícias partidárias e ideológicas nas redes sociais. Ao menos se você escolhe um dos lados, você tem essa trincheira para se defender da artilharia inimiga. É declaradamente de esquerda ou de direita, demarca seu território (como o cachorro que faz xixi no poste), paga um preço por isso e ponto final.
Agora, desafiar o senso comum, não escolher seu malvado favorito e ser leal apenas à sua própria consciência é um problemão. Você passa a ser achincalhado pela direita chucra como comunista, esquerdalha e saudoso da mortadela do PT. Na mão inversa, a esquerda fanática te chama de golpista, bolsominion e faz outros ataques do tipo, que nivelam por baixo os dois lados – até porque são limitados e não entendem (ou não aceitam) que você pode ser crítico de ambos. Aliás, cujo modus operandi é idêntico.
Então há esse vácuo político entre os dois extremos que digladiam e se acusam diariamente. Um vazio partidário entre essas torcidas uniformizadas de um lado e de outro que precisa ser ocupado por gente íntegra, sensata, preparada, disposta e bem intencionada. Que seja uma alternativa viável aos padrões e visões mais tradicionais e às posturas ideologizadas que não convencem mais ninguém além dos próprios convertidos.
É esse papel que cobramos de indivíduos conscientes, sejam cidadãos anônimos ou personalidades reconhecidas, ativistas autorais, influenciadores digitais, formadores de opinião. É esse chamamento que se faz à sociedade organizada, aos movimentos cívicos, aos partidos não atrelados automaticamente à base governista, adesista, fisiológica, nem à oposição sistemática que aposta no “quanto pior, melhor”.
Cidadania plena, liberdade, democracia, humanismo, sustentabilidade. A defesa intransigente do estado democrático de direito. O respeito à diversidade. Princípios que esse presidente tuiteiro e a sua geração de youtubers e blogueirinhos lacradores não dão conta de atender simplesmente com memes, selfies, lives, posts e stories que infestam o espaço virtual.
Falta uma ação mais concreta, presencial, objetiva, real. Fazer a diferença no dia a dia. Cortar o cordão umbilical de uma nova geração que vai sacudir essa velha política. Tirar a bunda da cadeira, levantar do berço esplêndido, dar a cara a tapa e mostrar que não somos iguais a esses babacas. Quem se habilita?
Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente