Nem partidos progressistas atentam para o crescimento sustentável
Brasil e Estados Unidos têm a pior resposta do mundo à pandemia. Também disputam a corrida para ver quem ostenta as piores políticas ambientais. A opinião é do economista Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia, numa entrevista ao jornal Valor Econômico, publicada na sexta (3).
As duas questões não aparecem juntas por capricho do professor. No mundo civilizado, a reconstrução dos sistemas econômicos atingidos pela Covid-19 ampliou o espaço para o debate de soluções compatíveis com formas de produzir, consumir e viver mais sustentáveis do ponto de vista ambiental.
Na Europa, a partir da cruzada de Greta Thunberg, a proteção do ambiente vem ganhando espaço na política institucional, com o engajamento de presidentes e primeiros-ministros de centro direita ou da esquerda social-democrata. Uns e outros respondem à opinião pública e ao crescimento de partidos e candidatos verdes, cuja mais recente prova de força se deu nas eleições francesas de semanas atrás. Nos Estados Unidos, a proposta do Green New Deal nasceu no Partido Democrata —e é conhecido o compromisso de seu candidato a presidente, Joe Biden, com políticas que combatam as mudanças climáticas em curso.
Que o presidente Bolsonaro venha marchando na contramão do mundo civilizado no trato do meio ambiente não causa grande espanto, embora produza espanto no exterior e repulsa na sociedade organizada.
Já não são apenas os cientistas e os gestores das agências públicas e privadas, além das organizações não governamentais, que se movimentam contra as políticas destrutivas do governo de extrema direita. Na terça-feira (7), executivos de 38 grandes companhias que atuam no país e quatro entidades de representação de interesses empresariais enviaram uma carta-manifesto ao general Hamilton Mourão, vice-presidente da República e presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal. Nela, declaram-se preocupados com o ritmo do desmatamento da floresta e recomendam que a retomada da economia se paute pelo princípio do baixo carbono, da inclusão das comunidades locais e da valorização da biodiversidade.
A iniciativa inclui em boa hora o crescimento sustentável na agenda da reconstrução econômica pós-pandemia. Mas não irá longe se continuar ausente das cogitações das agremiações políticas —com a solitária exceção da Rede, de Marina Silva. Nem procurando com lupa é possível encontrar qualquer menção ao tema nos documentos partidários ou nos pronunciamentos de seus líderes, mesmo os mais progressistas. Eles parecem quase tão cegos para o século 21 quanto o governo a que se opõem.
*Maria Hermínia Tavares, professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap