Na última semana, refleti sobre valores abstratos e subjetivos essenciais para nossa vida, tais como, ética e liberdade. Mas, longe de qualquer determinismo economicista, é preciso reconhecer que a vida humana é movida primariamente por necessidades muito concretas e objetivas, como a própria sobrevivência.
Desde as comunidades primitivas, o processo de trabalho vem se sofisticando. Das sociedades coletoras nômades até a era da Internet e dos robôs, o mundo do trabalho foi sacudido por ondas de inovação que revolucionaram as formas de organização produtiva. O crescimento da economia com base no aumento dos investimentos e do consumo, por si só, garantia o aumento geral do bem estar, do emprego e dos salários.
Isto não é mais verdade absoluta na economia do século XXI, após o choque de inovações trazido pelas novas tecnologias e as mudanças na produção de bens e serviços.
Precisamos reciclar a discussão no Brasil. Vários dos debates presentes – previdência, reforma tributária, estratégias de desenvolvimento – estão olhando pelo retrovisor, sem considerar a mudança de paradigma acontecido no mundo e no país, onde a economia, organizada pelo mercado maestro dos fatores de produção e com forte presença do Estado nacional, foi substituída por novos arranjos produtivos num mundo globalizado.
Nossa situação é extremamente complexa. Além dos problemas oriundos das características globais do novo mundo produtivo, que saltam aos olhos no UBER, nos caixas eletrônicos ou na robotização das fábricas, temos um desarranjo conjuntural.
Fechamos 2018 com 12,2 milhões de desempregados, ou seja, 11,6% foi a taxa de desemprego. Chegamos a 13,7% no primeiro trimestre de 2017, após a brutal recessão dos anos Dilma. Além disso, tínhamos, em dezembro, 6,9 milhões subempregados, 4,7 milhões desalentados – os que desistiram de procurar emprego – e 3,2 milhões que poderiam estar trabalhando, mas que por motivos variados não estão – ex: mulheres que abandonaram o emprego para cuidar dos filhos ou trabalhadores em tratamento de saúde.
A economia cresceu em torno de 1% a.a. no Governo Temer. As previsões para o primeiro ano de Bolsonaro não são animadoras. O Brasil precisaria crescer 3% a 4% ao ano para gerar empregos, principalmente para a juventude. Crise fiscal aguda, falta de previsibilidade e segurança jurídica, baixa produtividade e capacidade inovadora, rigidez institucional, impedem isso. A reforma trabalhista e a regulamentação da terceirização foram avanços importantes. Mas mesmo que crescermos o PIB, não necessariamente crescerão o emprego e a renda da população.
Vale ler o trabalho do economista do IBRE/FGV e dos quadros do BNDES, José Roberto Afonso, “FAT E O FUTURO DO TRABALHO: histórico e desafios”, publicado na última revista do BNDES. Ele demonstra com números e evidências que “trabalho não será mais emprego”, que não haverá mais vínculo empregatício, local rígido de trabalho, horário rígido e que é preciso repensar a proteção e a qualificação e requalificação do trabalhador, numa economia onde 52% já não têm proteção trabalhista e previdenciária, frente a 8,6% de servidores públicos e 39,4% de empregados com carteira assinada.
A estratégia de desenvolvimento e as necessárias reformas estruturais têm que olhar para o futuro e não pelo retrovisor da história.