Qualidade da informação ofertada caiu. Estado insiste em controlar emissoras. Enquanto público migra para a internet
Caiu a qualidade da informação ofertada ao público e ganhou espaço um jornalismo engajado. A ponto de, na semana passada, dois marmanjos velhos de guerra trocarem sopapos num estúdio de rádio, cada um em nome da sua militânciaReprodução/YouTube/Jovem Pan
A imprensa brasileira enfrenta sua pior crise. As mudanças são radicais e profundas. Redes e mídias sociais transformaram o cidadão comum em produtor de conteúdo e formador de opinião, a ponto de surgir uma nova profissão: influencer. Alguém que ganha a vida influindo no comportamento dos outros. A maioria dos influencers – profissionais ou amadores – não são jornalistas e nem querem ser. Enquanto mudanças como esta estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia, as empresas jornalísticas continuam vendendo suas edições em papel.
Desde sempre governos alimentaram a mídia com generosas rações de dinheiro público sob a forma de publicidade, eventos, palestras e mais as famosas marretas, como eram conhecidas algumas transfusões financeiras típicas da época de Assis Chateaubriand. Este tipo de prática está acabando, porque não faz sentido um país com 13 milhões de miseráveis abrir a bolsa da viúva e gastar dinheiro dos impostos para sustentar veículos de comunicação com publicidade de empresas estatais ou da própria administração pública. O governo tem apanhado muito porque deu às empresas de capital aberto liberdade de publicar seus balanços de graça no Diário Oficial, acabando com a obrigação de pagar pela publicação nos jornais. Ora, por que uma empresa tem de ser obrigada a pagar pedágio ao baronato da imprensa para prestar contas à sociedade?
Há mais de um século a mídia brasileira se estabeleceu como um negócio familiar, opaco e distante do capitalismo clássico, formal, ao negar-se desde seus primórdios a abrir seu capital e sentar praça na Bolsa de Valores. Dela sempre fugiu como o diabo da cruz. Mas quer morder algum de quem lá está e que, por isso mesmo, precisa ser transparente. Por que as empresas jornalísticas, as redes de TV e rádio não divulgam publicamente seus balanços? Isto deveria ser uma obrigação de quem se vende para a sociedade como um prestador de um serviço para o público, comprometido com a transparência e a liberdade de informação.
Mas na prática não é nada disso. O moralismo, a permissividade e a hipocrisia variaram de acordo com as circunstâncias, o interesse e a oportunidade. No Brasil temos a hipocrisia das concessões públicas de canais de rádio e TV, uma aberração sem sentido em plena era da internet e da produção caseira de conteúdo, onde qualquer um, rico ou pobre, pode publicar textos, fotos e vídeos, conquistar seu público, vender seu peixe. O estado insiste em controlar emissoras do mesmo jeito que controla taxis, quando o público está migrando em massa para o YouTube e o Uber. A TV tradicional está em franca decadência, perdendo muita audiência e dinheiro desde o surgimento dos serviços de streaming como Netflix. Outros gigantes estão entrando no mercado, como a Disney e a Apple e o consumidor vai fazer a festa. As pessoas veem o que querem, e esta escolha passa cada vez menos pela TV tradicional.
Nossa imprensa perdeu muito em qualidade nas últimas duas décadas, insistindo em jogar dinheiro fora apostando num modelo de negócio falido, onde a atividade fim, a produção de notícias, saiu mais prejudicada. Caiu a qualidade da informação ofertada ao público e ganhou espaço um jornalismo engajado, militante, cuja regra de ouro é esquecer princípios básicos como ouvir os dois lados, apurar a informação, cruzar, checar, levantar circunstâncias, atores, situações e evitar a todo custo julgar, condenar e, acima de tudo, militar. A ponto de, na semana passada, dois marmanjos velhos de guerra trocarem sopapos num estúdio de rádio, cada um em nome da sua militância. Este é o retrato da decadência da grande imprensa brasileira, doente e histérica.
Outro sintoma da crise é o jornalismo de fontes. Contar a notícia sem dizer o nome do informante virou coisa corriqueira. O sujeito entra no ar e diz que uma fonte deu uma informação a qual na maioria das vezes não é checada. No governo Bolsonaro este tipo de jornalismo foi atropelado pela falta de fontes qualificadas. O repórter diz uma coisa no ar e acontece o contrário. O crescimento do jornalismo de opinião, uma feira de palpites, contaminou as redações, mas não o público. Simplesmente porque estas opiniões são irrelevantes para a maioria absoluta das pessoas. O público quer notícias e serviços. Não está nem aí para o que pensam os sábios da imprensa. Se estivessem, Bolsonaro não teria vencido as eleições.
Cada vez mais as pessoas trocam a TV aberta e a TV a cabo por conteúdos do YouTube e Vimeo, como programas de humor, jornalismo, documentários, pornografia. São 130 milhões de brasileiros conectados, dos quais 90% acessam a internet todos os dias. Portais de notícias como este Poder360 ganham mais credibilidade a cada dia investindo em jornalismo saudável, sem histeria ou militância.
O mercado brasileiro também está sendo disputado por veículos estrangeiros como o espanhol El País e a americana CNN. Concorrem com empresas brasileiras e prestam contas aos seus acionistas nas bolsas de Madrid e Nova Iorque, enquanto as daqui seguem brigando por uma parte do dinheiro de empresas públicas como Banco do Brasil, Caixa Econômica, Petrobras, Correios ou os anúncios do governo federal. Esta é a diferença entre financiar jornalismo com a Bolsa de Valores e viver dependurado na bolsa da viúva.