Presidente perde capital político diariamente imerso em batalhas imaginárias
Militares veem valor até mesmo nas retiradas. Exigem esforços logísticos, são operações que salvam vidas e permitem a reorganização das tropas acuadas pelo inimigo para uma futura ofensiva. O Exército brasileiro registra um recuo histórico. Foi na Guerra do Paraguai, no episódio conhecido como Retirada Laguna.
Nesta segunda-feira (8), os militares perderam uma batalha na disputa por espaço no Ministério da Educação (MEC). Incrivelmente associados à vanguarda iluminista do governo, os oficiais generais perderam com a nomeação de Abraham Weintraub para o lugar de Ricardo Vélez.
Weintraub é um Vélez turbo, menos caricato. Mas o combustível batizado que o move é o mesmo, o da guerra cultural. Em seminário gravado disponível nas redes sociais o novo ministro diz que os “comunistas” no Brasil estão no topo das organizações financeiras, no comando da mídia e das grandes empresas.
Com a mexida, Bolsonaro reforça a posição dos guerreiros culturais no governo, em detrimento de uma representação partidária ética. Afaga suas falanges digitais, mas não as forças necessárias à governabilidade e à aprovação de reformas.
Bolsonaro virou um presidente paraguaio, fake. Em três meses, deixou de representar a parcela majoritária da população que o colocou no Planalto, como mostrou o Datafolha, para se refugiar no território conflagrado da internet, onde governa via Twitter um monte de perfis radicalizados.
Eleito com os votos de um amplo espectro da sociedade, que rejeitara a candidatura do indicado de Lula, Bolsonaro insiste em ser um avatar e não um presidente de carne e osso para todos os brasileiros. Está na hora de bater em retirada do terreno hostil em que se meteu.
O presidente perde capital político a cada dia que passa imerso em batalhas imaginárias. Uma hora estará só, vulnerável —sem apoio popular, sem a retaguarda dos militares que já terão se retirado. Aí será tarde demais para cuidar do mundo real.